quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Jurar à Bandeira daquilo é aquilo...

Hoje, minha mãe entra no quarto, acende a luz gritando. Eu atordoado, pulei da cama e achei que tava atrasado pro serviço. Ela falando "Isso aqui é hoje, é hoje" segurando um papel meio verde. Ainda tentando saber o que se passava no meu quarto, olhei o papel e vi a minha desgraça: Alistamento Militar. Exame médico às 6:30, do dia 04/08/2010... etc. etc... Se o indivíduo não se apresentar, será considerado REFRATÁRIO... bla bla bla.
Pensei: "Perdi hora... FU...". Peguei imediatamente o celular e acendi o visor pra ver as horas. 3:02. Dava tempo, de continuar dormindo, acordar, tomar banho, escovar os dentes, e partir para o tão temido exame médico do exército. Enfim. Acordei novamente às 5, pra tomar banho, me trocar, arrumar os documentos, e dormir de novo até as 6:10, pra levantar, tomar café e ir. Chegando la, ouvi um caloroso discurso do Major Couto sobre servir a tão querida pátria amada. Uma honra servir o seu país. Uma honra imensurável. Uma explicação sucinta do que ocorreria nas próximas tres horas (ou mais), depois o tenente-japa (cujo nome me esqueci) médico do exercito foi fazer a explicação do exame e o bla bla bla que todos escutam. Depois um soldadinho metido a besta fico la gritando os nomes pra ir apresentar a ficha do alistamento pra cadastrar ou algo parecido, sei la. Enfim. Depois disso, fomos para uma outra fila, para fazermos o exame.
Mal sentamos na sequencia da senha (eu era o 42, e começava no 30) e o tenente-dentista ja foi colocando todo mundo de pé e falando "Um sorriso... isso... agora abre a boca" e passando uma lanterna na sua cara. Depois que ele fazia isso, tinha que tira a ropa e fica la de cueca, na brisa gélida das 7:30 da manhã. Enquanto isso, um outro soldado ia passando com uma fita medindo a cabeça e a cintura. E perguntando se voce tinha gravado o numero, pra testar sua memória. Genial. Lembro os meus até agora. 57 e 78, respectivamente. Depois o tenente-japa passava vendo o batimento cardiaco, as mãos e o saco. Primeiro os batimentos. Colocava o estetoscópio no peito e ficava olhando sua cara com um ar de "ta ferrado muleque". Depois falava "estende as mãos", e depois "abaixa a cueca até metade do joelho e assopra bem forte no lado da mão". Olhava e mandava se troca. Depois o exame de vista, o de força, media a altura e o peso e pronto.
Eu estava apto a servir o exécito. Fui fazer a "prova". Senti que minha inteligência foi insultada grandemente naquela prova. O primeiro teste foi um tipo de "ligue os pontos" e o segundo foi de marcar as atividades que voce prefere. Eu juro, e se eu estiver mentindo, que caia um meteoro na cabeça da mãe do meu vizinho, a primeira "questão" era pra voce assinalar se voce prefere Desenho Artístico ou Atirar com um Canhão. É mais do que óbvio que eu assinalei atirar com um canhão.
Depois disso eu fui fazer a entrevista, reclamando os diabos, por que eu tinha certeza que eu ia servir. Mas graças a minha faculdade, eu fui dispensado. Depois disso, todos os que estavam dispensados se reuniam na entrada para Jurar À Bandeira. O famoso juramento "Dispensado do serviço militar inicial... bla bla bla". Eu estava la, com o grupo, MAS esperando minha mãe trazer o contrato da faculdade, pois o sargento havia me pedido. Exatamente na hora que a bandeira apareceu pra todos jurarem à ela, eu me retirei para levar ao sargento o contrato. Quando eu volto, todos ja haviam Mentido à Bandeira (por que ninguem hoje em dia é patriota suficiente para morrer pelo país) e eu como um bom não-patriota não estava nem um pouco afim de fazer algo totalmente banal, ridículo e hipócrita, forçado. Não estava afim de jurar à bandeira. E não jurei. Simplesmente peguei o meu papelzinho, entreguei pra mulher e ela carimbou um JUROU À BANDEIRA bem grande no meu papel. Ou seja:
Eu estou dispensado do exercito, e não jurei à bandeira. Eu não vou prestar serviço militar nenhum para a minha pátria, e não fingi ser um patriota jurando proteger esse solo com minha própria vida. Eu fui dispensado do exercito, e não fiz o que o exercito mais preza, que é a demonstração publica de patriotismo. Que para mim, não passa de uma vergonha coletiva.
Minha sorte é que na entrevista não me perguntaram:
"O que voce acha do Exercito?"
Por que minha resposte seria unica e completamente minha:
"Uma festa à fantasia patrocinada pelo salário do meu pai".

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