quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Bullying



Voltou a ser modinha falar de bullying, fazer passeatas contra o bullying, fazer reportagens sobre bullying, etc. etc. Eu acho que é bom isso, pois o bullying é errado. Eu sei que essa ultima frase ficou parecida com os comentários do Capitão Óbivio (leiam a Desciclopédia), mas é verdade. O bullying causa um dano psicológico grave às pessoas. Traumas. Principalmente quando criança. Voce fica chamando o garoto de bandido (bandido, bandido, bandido, bandido), no dia que ele tiver passando uma necessidade (às veze nem precisa passar necessidade), se tiver a oportunidade de cometer um delito, o primeiro pensamento dele será: "Eu ja sou bandido mesmo, não tenho nada a perder". Criado mais um bandido. Todo mundo da ênfase ao bullying na escola, mas ninguem lembra que existe isso dentro de casa. Pais xingando filhos por motivos banais. Isso é tão ridículo quanto um garoto xingar outro mais novo por causa do tenis descosturado dele. Se não for mais ridículo. Mas eu não estou aqui pra defender tese nenhuma. Quero contar um caso que me trouxe remorso. Não é bem remorso. Na verdade eu não sei o que é remorso, pois nunca senti de verdade. Portanto, é um caso que me incomoda (em partes).
Eu não considero bullying. Considero uma "verdade dolorosa exposta para melhor convívio social".
Foi no segundo ano do médio. Tinha um cara chamado Guilherme. Ele era gordinho, cabelo milico, aparelho e ria chupando o ar por entre os dentes. Ele era meio estranho. Eu sou estranho, mas ele era muito estranho. E desnecessário. Extremamente desnecessario. Completamente improdutivo. Ele ficava tentando se enturmar das formas mais cretinas possíveis. Na outra escola, o apelido dele era Meigo. Por ai ja da pra imaginar como era a pessoa. Enfim. Na nossa sala, 80% das pessoas tinham apelido e os outros 20% tinham abreviações. Nossa sala não tinha panelinha. Era todo mundo entrosado. Lógico que havia os grupos mais pessoais, mas a sala como um todo, era bem entrosada. No "meu grupo", tinha eu (Turco), o Vitor (Bizunga), o Thalles (não tinha apelido, a gente costumava chamar ele de bixa), o Felipe (Fel), o Nicolas (Pini), a Marcela (Mah), o Juliano (Gordo) e o André (Dé ou Beiço). E ele queria enturmar conosco. O Gordo, resolveu dar um apelido para ele: Toiço. Simples, e todo mundo lembra. E a partir desse momento, ele passou de extremamente chato, para extremamente insuportavel. Ele (alem de não aceitar o apelido) achava que ja era do grupo. E sempre que alguem cortava ele, ele corria contar pro Bizunga. Pobre infeliz. E isso foi pelo primeiro semestre, e parte do segundo tambem. No segundo semestre, ninguem mais aguentava ele, com suas piadas escrotas e suas tentativas frustrantes de fazer amigos. Ninguem mais queria ficar perto dele, mas todo mundo tinha dó. Então, nesse meio surgi um sanguinário sem coração e sem sentimentos que destrói toda a vida do rapaz: eu. Tinha que ser eu. Ja diria aquele ditado: "Se não tem tu, vai tu mesmo", fui eu la, para conversar com o rapaz. Mas eu não tenho muita paciencia. Alias, eu preciso que alguem me doe paciencia por que ta em falta. E eu rasguei.
Quem rasga perde a razão, mas eu não perdi a razão. Não tinha como eu perder a razão. Foi no segundo intervalo, entre a 4ª e a 5ª aula. Estavamos todos no "grande" patio do Colégio Integral Indaiatóba, e eu, bem no sol radiante da primavera, rasguei com o toiço. Não quero escrever o que disse aqui, mas eu só disse a verdade. Eu falei que ninguem gostava dele, que não adiantava ele fica tentando, por que ele nunca ia conseguir ser amigo de ninguem ali, que não era pra ele ir chorar no colo do Bizunga, por que o Vitor tinha dó dele (nessa hora todo mundo saiu de perto pra não rir mais da cara do menino que ja se fechava numa tentativa medonha de segurar o choro), que as pessoas só deixavam ele se aproximar, pois tinha pena dele, e por fim, a cartada final: "Cara, na moral, sua mãe te humilha na frente dos seus amigos... voce acha que ela realmente te ama?". Fato, a mãe dele xingava ele na frente dos "amigos" dele.
A unica coisa que ele conseguiu me falar, foi me mandar tomar no meu forébis. Depois disso, veio paz à sala. Ninguem mais ouviu falar dele. Ele era um fatasma na sala. No meio do terceiro ano, ele passou na faculdade que ele queria, e saiu da escola. Foi terminar o colegial numa escola publica. No meio desse ano, eu vi ele. Ele estava magro. Extremamente magro. Quase raquítico. O motivo, pelo qual fiquei sabendo, era Anti-Depressivos. Dizem que ele tentou suicídio com remédios, mas as pessoas dizem muita coisa. Enfim. Não me causa remorso isso, pois, como ja lhes contei, eu não sei como é o sentimento de remorso. Só me sinto um pouco culpado por ter insentivado uma coisa errada. As pessoas ja zuavam ele, e quando ele teve um breve lampejo de esperança, veio um boçal (eu) e destruiu tudo. Mas a culpa não é toda minha. Eu só tive boca pra falar. O sentimento era unanime. Eu só fui o canal. Portanto, não sinto culpa disso. Não sinto que eu vou pro inferno por causa disso. Eu só acho que perdi a chance de ficar de boca fechada.



PS: Imagem retirada do filme "Mary and Max". Uma animação baseada em fatos reais, feita para adultos, com mensagens muito boas e reflexivas. Uma história muito boa sobre a amizade entre uma menina australiana que nasce numa família perturbada e que sofre bullying e tem sonhos como toda criança, e um velho americano obeso e depressivo que tem disturbios mentais e é extremamente insensível. Vozes de Toni Collette (Mary) e Phillip Seymour Hoffman (Max).

Um comentário:

  1. muito bom turcao !!!

    acho q esse negocio dos remédios eh lorota
    mas acho otimo vc ter conciencia da oportunidade q perdeu huuhuhuhuh
    sim sou o thalles, oq chamavam e chamam d ebixa


    abraçs

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