Medo.

Ja parou pra pensar no seu medo? Não o "medo de escuro" tão comum entre as crianças. Medo mesmo. Aquele que voce não consegue pensar em enfrentar. Aquela situação que te deixa com os piores sentimentos do mundo. Aquela situação que seus sentidos ficam aguçados, voce sente a respiração pressionar os pulmões contra as costelas, sente o sangue quente passar pelas veias como um liquido denso. Sente cada pulsação como se fosse uma martelada no peito. Sente o suor frio escorrer pelas têmporas, pela nuca e pelas pernas. Sente as juntas enrijecerem e os nervos tremerem. Sente o sangue se esvair das pernas, do rosto, dos braços ate parecer que esta a beira da morte. Seus olhos se tornam fotossensiveis, e seus ouvidos surdos. Não escuta nada além da própria respiração, e qualquer outro barulho que seja suspeito, fica em evidencia rapidamente. Aquela sensação de que faz dias que voce não urina, e a pressão na bexiga é tanta que parece que vai urinar imediatamente (as vezes realmente acontecendo). Ânsia, falta de ar, salivação exagerada. Desse medo que eu falo. Fobia.
Voce sabe qual é a sua fobia? Eu sei a minha: Altura.
Odeio altura. Desde criança, quando quase cai de um andaime. Não queira saber o que eu fui fazer no andaime. Enfim, quase cai do andaime e criei um trauma de altura. Fobia. Se eu subo numa daquelas escadinhas de pedreiro, que abre e fecha, eu não consigo descer. Ate consigo, sentado, degrau por degrau com alguem me dando certeza que a escada não vai virar e eu cair e quebrar o pescoço. Fobia. Sabado eu criei coragem e enfrentei minha fobia. Ou perdi o juízo e passei vergonha.
Nagashima Park, Mie-Ken, Japão. Maior parque de diversões do Japão. Abriga a Steel Dragon 2000 (foto). A maior montanha russa do mundo com 2.480 metros de comprimento e a quinta mais ALTA com apenas 97 metros. Com uma velocidade media de 150Km/h. Eu fui. Sentei no banco e (quem sai na chuva é pra se molhar) levantei as mãos. O carrinho começou a andar e eu gritava que não queria mais. Que queria ir embora. Cheguei ao ponto de chamar minha mãe. Comecei a tremer, sentia que ia mijar a qualquer momento. E a subida nunca acabava. Queria chorar. Eu sentia meus olhos arderem, prontos para desabarem em aguas. Suava feito um porco e berrava. Com as mãos ainda levantadas continuava subindo. Quando chegou la em cima, eu ainda gritava e segurava com todas as forças para não urinar nas calças. E para não chorar tambem. Gritei, gritei, gritei. Aqueles 3 segundos parado no topo foram eternos. Quando o primeiro carrinho começou a deslizar pra frente, eu tentei gritar mais alto. Mas não dava. Não conseguia mais gritar. Por um momento pensei que tinha mijado, mas não. Eu levitava. Era tão rápido, que eu sai do banco (gordo como sou). Fiquei no ar, ate o carrinho voltar a subir. Depois disso, eu estava fora de mim. Não sentia mais o banco, as curvas, enxergava tudo, mas não passa de lembranças. Como num sonho.
Voltamos para a cabine, e eu ainda de mãos levantadas. Tremia. Parecia alguem com hipotermia. Acabou. Sai do carrinho e acabou. Depois disso, não sei mais o que é alto e o que deixa de ser alto. Não perdi minha fobia, ainda odeio altura. Mas agora, eu sei que eu posso enfrenta-la. Mesmo chorando e molhando as calças, eu posso enfrenta-la.