Pois é, a vida de trabalhador continua infernal ainda. Continuo pegando dois metros e tomando chuva. Mas graças ao bom Deus, hoje é o ultimo dia.
O ULTIMO DIA.
Uma sexta-feira chuvosa e com uma temperatura rasoavel de 13 graus. São 11:10 da manhã e parece que são 6 da tarde. É incrivel como São Paulo é depressivo. Todo mundo sozinho. Um silencio mórbido na lotação do metro. Na rua, se escuta apenas os carros. Todos os paulistanos presos em sua liberdade. Fétido. Cinza. Muito cinza. A maior cidade do país, totalmente morta. Mas eu gosto daqui. Friedrich Nietzsche disse certa vez: "Odeio quem me rouba a solidão, sem em troca me dar verdadeira companhia". É satisfatório saber que cada paulistano respeita a solidão reciproca de seus semelhantes.
Mas ao mesmo tempo é frustrante ver que todos estão confortaveis em sua solidão. Que é aconchegante ficar só em si mesmo, o que nos faz pensar em desconfiança descontrolada. Quase uma sindrome do panico. Uma fobia de se aproximar de outro ser humano. Uma fobia de se aproximar, ou um desprezo por quem se aproxima. Isso me deixa envergonhado da minha raça. Raça Humana. Mas tudo bem. Ja estamos acostumados com isso, que nem pensamos mais. Mas eu parei pra pensar nisso ontem, depois do curso, quando fui almoçar na Estação da Luz.
O marco do centro de São Paulo. A Estação da Luz, com saída para a Pinacoteca do Estado, o Jardim da Luz e fazendo fundos à antiga Estação Júlio Prestes, a atual Sala São Paulo, a maior e melhor sala de concertos do país, sede da OSESP (Orquestra Sinfonica do Estado de São Paulo) e prédio da Secretaria da Cultura. O primo rico de São Paulo, abriga o primo pobre. Mendigos, catadores de lixo, malabaristas do sinal vermelho, os pequenos desfavorecidos pelo sistema, (como diria Cazuza) "sementes mal plantadas, que ja nascem com cara de abortadas", que infestam as propriedades da estação e seus arredores. E todos, absolutamente todos, sozinhos. Cada um por si, Deus por todos. Absolutamente ninguem com eles, por eles ou para eles. Regra unica de sobrevivencia na grande capital: Olho por olho, dente por dente. Sobreviva e nada mais.
Não estou criticando ninguem, pois eu mesmo não olhei por eles. Eles mesmos não olham por eles. Hoje em dia todo mundo entrou na regra. Não existe mais a verdadeira filantropia. Não existe a verdadeira caridade. Aquela que sai da alma, aquela que não importa pra quem seja, eu quero fazer. Não, não existe. Uns fazem por dó da situação, outros por que se sentem bem em ajudar. Mas nunca pela pessoa a ser ajudada. Sempre são sentimentos pessoais que estimulam a nova filantropia. Não existe mais amor nas ações. Deplorável a situação. A verdade dói, mas a verdade seja dita: Deixamos de ser racionais, para sermos pessoais. Propriedades particulares improdutivas de nós mesmos. Escravos do nosso querer. Infelizmente é assim, e a tendencia é ficar pior.
Mas graças a Deus, hoje é o ultimo dia. Talvez hoje a noite, depois que eu chegar em casa e tomar um banho, eu pare de pensar nessas coisas. Talvez eu volte a andar na linha. Caminhando junto com todos os outros seres que se julgam iguais a mim, e me tratam como algo que não sou eu. Talvez eu pare de pensar em mudar o mundo com palavras e comece a me auto-censurar e me conforme com a situação da humanidade, enquanto tomo meu bom café, sentado na minha poltrona, assistindo novela, de havaianas, totalmente alienado, na minha Zona de Conforto.
Talvez sim... talvez não...
God Bless São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário