Hoje me esqueci que haverá amanhã. Hoje
esqueci que havia futuro. Esqueci que vivia. Hoje simplesmente não existi. Não
pensei. Não vi, tampouco ouvi. Hoje não fui. Não cheguei. O hoje não me
pertenceu. Não sei ao certo o porquê, mas não me encontro no presente. Estou
preso em algo que não é o agora. Estou desfalecendo certamente, mas não sinto.
Não me sinto. Não sei quem sou, o que sou, ou por que sou. Estou estagnado num
vácuo eterno, agrilhoado e morrendo num presente que não sinto ser meu.
Busquei em minha
mente uma razão para o meu estado presente. Encontrei escuridão. Uma linha
tênue entre a esquizofrenia e a completa insanidade. Não havia mais luz no meu raciocínio.
Busquei lógica para explicar o sentido disto. Achei o vento. Totalmente sem
rumo, soprando para todos os lados, tempestuando a coerência da minha vida e
varrendo qualquer vestígio de ciência da minha mente. Procurei um motivo para
ter existido hoje. Só achei um vazio. Um vazio que aumenta a cada hora de hoje.
Um dreno que se alimenta de memórias e sentimentos e de toda minha essência. Um
dreno que me drena de mim mesmo. Pensei que quando o amanhã chegasse tudo
voltaria a ser como é de costume, mas me dei conta de que quando o amanhã
chegasse, seria hoje. E hoje não existo.
Isso me é
estranho. Sou estranho. Fiz-me estranho. Mas sou estranho só por hoje. Se hoje
não existo, e amanhã não existirei, penso então que vivo ontem, pois ontem já
não é mais hoje. É redundante, mas é aquilo que me convém. Sinto-me obsoleto
por ser passado. Viver no passado. Ser o passado. Pergunto-me sobre ontem. O
que fui ontem? Como existia ontem? Lembro-me de poucas coisas. Ontem eu viva.
Ontem eu acontecia. Ontem eu era alguém. Ontem eu tinha razão. Ontem eu tinha
lógica. Ontem eu tinha um motivo. Ontem eu tinha você.
A luz que ilumina
a minha mente e me faz pensar. Faz-me enxergar o mundo e tudo aquilo que nele
habita. A luz que faz de mim um ser vivente e racional. A direção que sigo
destemido e provido de sabedoria. O caminho a ser trilhado de forma segura,
coerente e lógica. Aquele tudo que preenche o meu vazio e inunda minhas veredas
de sentimentos essenciais e que nada é capaz de conter, secar ou destruir. Meus
alicerces. Minha vida. Meu passado concreto, meu presente incerto e meu futuro
desejado. Vejo tudo isto preso ao passado, na memória distante, pois ontem foi
minha e hoje não a tenho. Agora, preso no abismo da solidão que a distância
entre nossos corpos criou, vejo, compreendo, e desejo, tê-la em meus braços
novamente, pois em minha revelação, aprendi que me é necessário te ter para
viver. Enquanto não for minha novamente, estarei aqui vegetando, estagnado no
tempo. Preso às lembranças do passado, me afogando no desespero da distancia,
morto para meu próprio existir, querendo ser tudo aquilo que fui ontem.
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