quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Constatação.


A constatação é que são um, mesmo que separados por um vento, presos por um querer, assustados por um tempo, juntos por uma dor. De fato, são um, ainda que esperando no desejo, sedentos de saudades, aflitos na distância. São um unidos pelas lágrimas. Lágrimas frias e quentes, doces e salgadas, únicas e, simplesmente, únicas. Lágrimas que correm da alma para os olhos, e juntas escoam pelos corações distantes. Lágrimas de alegria, de esperança e da dor da frustração. Lágrimas de um desejo quase incontrolável. Lágrimas de uma repressão ainda maior. Uma tortura impronunciável.
Choram. Desesperados. Mentindo uma satisfação para os olhos alheios. Mentindo com sorrisos e palavras doces as lágrimas amargas em que lavam seus rostos. Mentem a felicidade. Uma felicidade que ainda não lhes pertence. Mentem, inventando desculpas e motivos, tantas vezes torpes, para se apegarem. Inventando significados para suportarem o insuportável, mutilando seus próprios espíritos em prol de uma ilusão. Mas o fazem juntos. Separados pelos sete infernos e seus demônios. Separados pelos céus e mares, e por toda crosta continental do impossível, mas se mantém juntos para sustentarem, em dor e agonia, a utópica alegria.
E por quanto tempo mais assim será? Por quanto tempo mais haverá dor? Por quanto tempo mais sustentarão mentiras? O vento não cessará de soprar na direção contrária? O querer não há de permitir a possibilidade? O tempo se demorará por mais tempo? O desejo não se satisfará? A saudade não será esquecida? A distância jamais será extinta? Quando as lágrimas serão enxugadas? E a promessa? Quando há de se cumprir?
Tanto se pergunta. Tanto se chora. Tanto se sofre. Já nem se sabe mais certeza alguma. Só restam dúvidas. Dúvidas e uma única constatação: que são um. Que por serem um, jamais desistirão. Que por serem um, jamais se abandonarão. Nem que haja mais sofrimento. Nem a imposição do vento, tampouco a impossibilidade do tempo, ou a repressão da alma e a forma da ferida, a tortura do frio das noites, o sarcasmo da mente só, as circunstâncias do mundo, e todas as lágrimas derramadas, nem o tanto que a vida castigue, será suficientemente grande para desatar este laço, e ruir os alicerces desta constatação. Nunca deixarão de ser um, até que, de fato, sejam um. 

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