quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Um Dia...

Um dia quente. Não exaustivamente quente. Mas faz sol. Digamos, um dia agradavel. A brisa fresca diminuia a sensação térmica e refrescava o ambiente. Nenhuma nuvem sequer. As árvores, com suas majestosas folhas novamente verdes após o inverno, remexiam-se ao som das aguas mansas do lago. Uma nevoa fria e branca pairava sobre as aguas, e tornava-se cada vez mais densa ao se aproximar das montanhas ao horizonte. O vale era belo. Durante o inverno, morto, mas assim que a primavera chegava, tornava-se um paraíso. Ao longe, as pastagens antes secas e amarelas, davam lugar ao capim alto novo que dançava com o vento. Passaros cantam.
A casa era a uns 50 metros da beira do lago. Uma baixada de cascalhos separava a porta dos fundos do lago. Uma casa grande, branca, de madeira. Grandes janelas em todos os lados da casa. Um ninho campestre. Vazia. Não completamente, mas vazia. A casa parece morta, semelhante ao inverno. Mora um senhor ali. Há 25 anos ele mora la. Todos os dias sua rotina é acordar cedo, preparar o café, comer com sua esposa à mesa, sair, cuidar da grama, enquanto sua mulher cuida das roseiras, voltar para sua varanda e apreciar a perfeição do vale em sua cadeira de balanço. Almoçar e ir na cidade com a mulher. Mas havia uma semana aproximadamente que sua rotina fora quebrada. Não tinha mais mulher para cuidar das roseiras. Nem para acompanha-lo durante o café, ou durante sua ida à cidade. Não havia mais o motivo para apreciar a perfeição do vale, pois ela tinha morrido.
Agora, a casa está naufragada num vazio profundo, como se perdida numa neblina. Mas hoje é um dia diferente. O sol brilha mais forte nessa quase tarde de primavera. É quase meio dia e a casa permanece estatica. Nem um movimento sequer. Mas hoje é um dia diferente. Não há mais solidão na casa. Não existe mais o peso da exclusão. A partir de hoje o vale volta a ser perfeito. Volta a ser o paraíso das manhãs primaveris. Exatamente como era antes, exceto pelo pobre velho que, agora, com a brisa balança com seu pescoço destroncado sob a magnifica copa do carvalho velho plantado ao lado da casa. Tudo exatamente como era pra ser: Uma bela tarde de primavera.






Não faz sentido, nem é agradável escrever sobre suicídio quando se tem tudo para uma história feliz. O que não faz mais sentido ainda é saber que realmente acontece.

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