Queridos e queridas, podem achar falta de ética, ou falta de consideração da minha parte, mas esse fato tem me tirado o sono há varias noites. Sei que vou pedir perdão milhões de vezes por dia, até o fim da mesma, ou até depois, por escrever isso aqui, mas me é necessario. Aconteceu há mais ou menos uma semana, talvez um pouco mais, com a moça que trabalha comigo (aquela que foi pra São Paulo na época da minha grande depressão) outrora chamada de Joana, hoje chamada de Berenice. Eu quis mudar o nome pois achei conveniente. O pseudonimo é meu, eu escolho o que eu quiser, portanto, prossigamos nos fatos decorridos.
Berenice se queixava de cansaço. Berenice se queixava de falhas na memória recente. Lapsos que a deixavam em situações constrangedoras. Essas vagas falhas de memória se tornaram grandes, semelhantes às sequelas de usuários de maconha. E a unica frase que ela conseguia dizer era: "Gente, eu to ficando louca". As primeiras teorias que se formaram, foram em decorrencia de uma unha encravada no pé dela.
1) A podologa tinha feito uma lobotomia. (Impossível)
2) Uma larva de tenia havia entrado pelo buraco da unha, subido até a cabeça e começado a crescer, se alimentando do cérebro dela. Cisticercose. (Plausível)
Enfim. Passaram umas horas, e começamos a descobrir fatos estranhos. Podia ser um trauma de infancia, uma frustração muito grande, ou algo parecido. Foi quando, ilumiado pela sabedoria divina e guiado pelo pensamento freudiano de que cigarro significa penis e charuto significa charuto*, eu descobri toda a teia psicológica que se desenrolava. Eis meu diagnóstico:
Berenice, quando era criança tinha um sonho, como varias outras crianças (exemplo: Hitler), de ser pintora. Pintora famosa, como Leonardo Da Vinci, Michelangelo, Rafael e outros mais. Ela tinha esse sonho. Que foi frustrado pela sua mãe, que queria que ela fosse doméstica. Então, não desistindo do seu sonho maravilhoso de ser rica, ela começou a pintar. Panos de prato. Guardanapos de secar louça. Sua mãe era muito cética quanto aos talentos da pequena Berenice. Certa vez, enquanto Berenice brincava de Pollock no guardanapo, sua mãe lhe deu um tapão na orelha dizendo "VAI SUJA TUDO OS PRATO DEPOIS, SUA MULA", e Berenice ficou dois dias com o ouvido apitando, desistindo (temporariamente) de sua carreira de pintora mundialmente famosa.
Esses fatos, Berenice contava para o seu peixe Betta vermelho de tres anos e imortal: Tico (nome real). Ele só tem tres anos, por que ela pensa que ele tem tres anos, e ele só é imortal, por que toda vez que ele morre, a mãe de Berenice (por dó da criança) trocava por outro identico. Deve ser a quarta geração de Ticos, mas ela ainda acredita que é o mesmo, e que ele é imortal. O que agravou a situação, levando ela a paranóia atual. Mas não acaba aqui a história da pequena Berenice. Ela cresceu.
Agora ela namora. Ela continua conversando com o peixe imortal dela, continua com o sonho de ser uma pintora mundialmente famosa (em coma induzido, mas o sonho ainda vive). E pobre coitada. Berenice é inocente, ela acreditou no que o namorado disse. Ele prometeu pra ela um atelie, pra ela poder pintar seu quadros, no meio da Chapada Diamantina, com uma sacada toda de vidro, de frente para a mata, para a cachueira, para o ar, para a liberdade. Coitada. Mal sabia ela que não passava de ilusão. Mal sabia ela que o atelie era um barraco 4x4, que o meio da Chapada Diamantina era bem em cima do Pico do Jaraguá, que a sacada não passava de uma janela suja e que a visão era só neblina, nuvem, Rodovia dos Bandeirates e capim alto. Ela terminou com o namorado, antes de descobrir isso. Foi melhor, pois se ela tivesse descoberto antes, teria se frustrado mais ainda.
E aqui está Berenice. Fazendo contabilidade, trabalhando de secretária, esquecendo onde guardou os comprovantes, não sendo regionalmente famosa, tão menos mundialmente, e conversando com o peixe imortal de tres anos. Ela não está louca. Só um pouco fora de contexto.
Dedicado à Ana Paula Fabiano.
*Freud dizia que o vício do cigarro era explicado pelo desejo sexual do fumante, a partir do momento em que ele associava o cigarro à figura do penis. E quando questionado sobre o simbolismo fálico do charuto que fumava (se um cigarro é um penis, um charuto é um tarugo de negão), ele declarou que "Às vezes, um charuto é só um charuto".
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