Acho que fui uma criança um pouco diferente das outras. Acho
pelo simples fato de não ter certeza nem do que eu acabei de comer, após
descobrir que a cereja em calda que gosto de colocar no sorvete na verdade é
feita de chuchu (segundo uma pessoa que diz que trabalhou na fabrica), não
tenho mais certeza de nana, nem mesmo se a cereja em calda é realmente feita
com chuchu e não com cerejas. Na verdade não tenho certeza nem das cores que
vejo a minha frente, pois quem garante que meus olhos não enganam meu cérebro?
Ele as vezes é tão bobinho.
Com sete anos ainda chupava chupeta, e não eram chupetas
normais, eram chupetas velhas. Não que isso não seja normal, mas eram chupetas ‘’nojentas’’
para ser mais exatas.
Ainda na segunda série levava uma chupeta escondida na
mochila para ir chupar na hora do recreio no banheiro, escondida de todos.
Quando ainda menor por volta dos 3/4 anos, quando minha mãe
não dava atenção no que eu falava, imitava uma galinha, batendo os braços com
os cotovelos flexionados, e cacarejando, ou então imitava uma velhinha com uma
bengala. Eu realmente tinha atitudes muito infantis, pois atualmente quando
isso acontece eu imito o Cristo Redentor, o Saci-Pererê ou eu canto ópera.
Queria um carrinho de controle remoto, mas sempre ganhava
uma Barbie. Queria ser menino, usar roupas do Mickey ao em vez da Minnie, ser a
melhor dos primos no vídeo game e fazer xixi de pé. Mas também achava os
meninos atraentes, em especial o Vitor, o menino loirinho e bobinho da minha
turma na primeira série, mas quem mais me chamava atenção não era bem os meninos
e sim os homens. O professor Eduardo que dava aula pra outra quarta série, que
não era a minha, era lindo, e o professor de artes da terceira também era muito
bonito, até mais que o Eduardo. O pai da personagem da novela Carinha de Anjo
então... Oh my God, e aquele ator do plantão médico também era de tirar suspiros,
entre outros que não é necessário comentário.
Essa coisa de querer ser menino passou rápido, com uns 8 ou
9 anos já estava conformada em me equilibrar para fazer xixi em banheiro
publico e amarrar o cabelo para ir pra escola, para não pegar piolho.
Após algumas consultas com uma psicóloga infantil minha mãe ficou
mais calma ao saber que eu não seria um serial killer ou sofresse de sérios distúrbios
de egoísmo e mentais. Só porque fiz uma cirurgia em uma boneca nova, abrindo-a
com a tesoura e simulando seu sangue com ketchup e retratar essa cena nos
desenhos livres que a professora dava pra fazer, e gritava do nada na sala de
aula quando estava tudo muito quieto. Quanto aos distúrbios de egoísmo era só
por não querer dividir nada com ninguém, e vender em vez de dar, na hora do
recreio quando algum amiguinho pedia um pouco/pedaço do lanche:
- Me da um pouco de amendoim?
- 20 centavos 5 amendoins
- Tá bom, amanhã eu trago o dinheiro.
Ou então:
- Da um adesivo do seu caderno?
- 20 centavos os pequenos, esses maiores é 30 e os grandes
50.
Meus pais notaram quando eu não pedia mais dinheiro para
comprar lanche, pois o que eu faturava com as vendas na escola dava pra comprar
o lanche e vender em pequena quantia, e me rendeu algumas consultas com a psicóloga.
Mas o que mais deu dinheiro foi o caderno de desenho que minha irmã me deu,
contendo 50 desenhos feitos por ela, e eu vendi todos a R$1, e os pintados a R$1,50.
Neste caso eu já era maior, deveria ter uns 9 anos e proporcionei orgulho para
meus pais pela ideia de ‘’fazer dinheiro’’, apesar de ter vendido um presente.
Meu pai dizia que eu tinha espírito de comerciante, mas esse
tal espírito foi sumindo com o tempo até desaparecer e hoje eu ser uma ameba
com vendas.
Além do Pedrinho, meu namorado imaginário que tive por volta
de uns 4 anos de idade, aos 7 tive o Hugo, que não era meu namorado e nem imaginário.
Quer dizer, em partes. Hugo, que descanse em paz, era uma bola de plástico em
que eu desenhei o um rostinho e um boné. Eu e o Hugo nos divertimos por muito
tempo. Nós íamos a vários campeonatos juntos. Ele era uma espécie de Pokémon,
mas não era um Pokémon, era uma bola mesmo. Ah, e eu não era a Thami, eu era um
personagem também, no qual prefiro não detalhar muito.
Contudo, minha viajem imaginaria não parava por aí. Eu
frequentava a ‘’Escola do Banho’’. Na mesma época em que tinha o Hugo.
Frequentei a ‘’Escola do Banho’’ por mais de dois anos. Nessa escola tinha vários
amigos e alguns inimigos, imaginários é claro, e era... Na hora do banho. Tinha
competições como o jogo da bucha e ganhava quem fizesse mais pontos com a bucha.
Minha mãe se intrigava do porque quando eu saia do banho o teto estava sempre
molhado. Mal sabia ela que eu estava em uma competição superimportante
representando a ‘’Escola do Banho’’. Lembro-me quando acertei a bucha na janela
e ela caiu para fora do banheiro e encontraram a tal no corredor. Foi
complicado explicar já que ninguém me entendia.
Atualmente com quase 20 anos posso dizer que estou melhor
dessas viagens, que a meu ver não é nada anormal, mas não posso afirmar que me
curei disso. Na verdade acho que não tem cura, pois não deve ser nenhuma
doença. Não que eu continue frequentando a escola do banho. Juro que não frequento
mais, juro juradinho, já que minhas viagens atuais são mais sofisticadas e a ''Escola do Banho'' é algo muito fichinha, mas não
cabe comentar sobre isso no momento. Talvez daqui umas décadas.
Postado por Thami