sábado, 24 de março de 2012

E nem deveria

O céu está nublado, mas eu o vejo azul. De um azul intenso, que arde os olhos.
As tentativas falharam. Eu as deixei falhar. Mesmo assim o céu está azul.
Encontro companhia em um copo de vinho, e converso comigo:

- Como você pode fazer isso, você não era assim. Você era tão melhor

- Todos falham

- Mas você não era assim...

- Agora eu sou

- Você tem que mudar, você pode mudar!

- Eu não posso voltar a ser o que era

- Por quê?

- Porque já fui longe demais, seria exaustivo voltar...

- Não te entendo

- E nem deveria...


Postado por Thami

sexta-feira, 23 de março de 2012

Em Teu Colo.

Um silencio profundo, quase palpável, inundou o quarto. A brisa fresca que entrava, acariciava as persianas fazendo-as dançar. Uma dança leve, desprovida de interesses e malícias. Olhou ao redor, e tudo parecia magicamente iluminado. Tudo claro, tudo calmo. Um caos ordenado de vistas. Então, poupou a mente de perturbações e lentamente fechou os olhos, e foi como se uma seda cor de azeviche lhe cobrisse a face, e assim permaneceu por um tempo que não soube determinar. Décadas se passaram até que o colchão lhe abraçou. Sentia-se como se deitado em um vasto lago de águas placidas. Como se flutuasse numa calmaria azul sob um céu ainda mais azul. Sentia o vento afagar seus cabelos e beijar seu corpo. Sentia-se em paz.
Paz. Não sabia o que era até que sua alma lhe contou. Ali, de olhos fechados, flutuando num universo iluminado de negro, solto como uma folha desprendida que pousa na grama, aninhado em braços de penas, mergulhado cada vez mais no profundo de seu silencio, ouviu o som doce, choroso e carente de sua alma. Ouviu o canto de seus sonhos. Ouviu suas poesias recitadas e sentiu o cheiro do orvalho fresco de seus versos. E ouviu tudo o que sua alma tinha a dizer. Ouviu todos os conselhos, todas as declarações. Ouviu seus medos, seus anseios, seus amores. Seu amor.
E conversou com seu espírito e se sentiu calmo. Conversou suas razões, conversou seus sentidos, conversou suas conversas. E ali estavam os três cantando em uníssono suas diferentes vozes. E chorou lagrimas de alegria vendo que seu corpo, sua alma e seu espiríto cantavam sobre o mesmo sonho que tiveram. Sonho de braços magros e quentes, seios pequenos nos quais podia repousar a cabeça. Sonho de olhos castanhos e labios doces como mel. Então ouviu seu nome. Uma voz calma, um tom meigo como a brisa que outrora o beijara. E sentiu então sua face formigar com o calor umido de labios que o tocavam. E o negrume se foi quando abriu os olhos e viu a face do anjo que lhe chamava.
Percebeu que sonhara. Um sonho de paz. Uma paz real. A paz que eu só hei de encontrar em teu colo.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Árvores e lenhas


Antes de dormir, às vezes eu rezo. Sento na cama e falo com Deus. Às vezes, quando estou muito cansada, rezo deitada mesmo, por pura preguiça de um simples sentar. Tento evitar pedir coisas, pois não sei se tenho alguma dignidade para isto, mas é quase que impossível não pedir nada. Peço desculpa pela minha distancia, mas nunca me aproximo. Peço perdão pelos meus erros, mas continuo errando. Peço desculpa pelas duvidas, e também peço respostas para as mesmas, mas nunca busca-ás. Peço compreensão acima de tudo, mesmo sentindo-me ridícula por pedir tal coisa absurda. Agradeço o dia, e se o mesmo foi muito ruim, peço para que o próximo seja melhor, nem que for um pouco. Agradeço pelas pessoas, às vezes questiono as atitudes delas. Tento pedir para que sua vontade seja feita, e não a minha, mas não consigo, pois o medo de sua vontade, invade-me.

Na verdade nunca consigo não pedir nada e somente agradecer, pois o pedido mais hipócrita está em todas as orações, a compreensão.

Não sei se adianta, mas prefiro acreditar que sim. Pois se não consigo mudar minhas atitudes e meu modo de pensar, a única coisa que tenho a pedir é a compreensão. Mas é estranho, alguém que não planta árvore pedir por lenhas. Mesmo sabendo disto, continuo apenas a pedir lenhas e me desculpar por não plantar árvores. A única coisa que peço, é a compreensão.


Postado por Thami

sexta-feira, 2 de março de 2012

Subitamente

Algo em você se desfaz. Parece vigorar uma impossibilidade de enxergar, de reencontrar algo que foi fundamental e que deu sentido até então aos dias que se foram.

O medo invade e o mal – estar faz sentir-se doente o tempo todo. O corpo não responde bem. Dores e náuseas causadas pela mente. Uma súbita felicidade que faz com que tudo volte aos eixos, mas não dura mais que 12H.

Às vezes até parece que o mundo de ponta cabeça faz mais sentido, mas não há nenhum sentido. Ir ou vir: tanto faz.

Postado por Thami