Abri o rack pra pegar uma garrafa de vinho, a última por sinal. Sujei minhas mãos e então pude perceber que estava escorrendo um pouco de vinho pela garrafa. Vinho vagabundo, não é nem de rolha, é de rosca mesmo. Estava quebradiço bem na boca da garrafa, bem quebradiço. Com certeza teria caído alguns vidrinhos ali dentro, mas eu não me importei.
Beber um pouco de vinho antes de dormir me faz bem, me faz adormecer mais rápido sem pensar muito, me faz ter um sono sem sonhos turbulentos.
Parece que a cada gole o muro de Berlim que há dentro de mim vai sendo derrubado, e então meus pensamentos se comunicam com aqueles que estavam do outro lado do muro, e o alivio é imediato e também dolorido.
Em um desses goles eis que sinto algo raspar minha garganta. Era um pedaço de vidro por ali se passando, mas já se foi, apenas mais uma dor no meio de tantas outras que até faz com que amenize essas ‘’outras’’.
Não conto os goles, mas uma aproximação de mais ou menos pelo 9° gole volta o ardor na garganta e então percebo que tem algo escorrendo por ela, e não era o vinho. Sangue. Era sangue.
Então me pergunto o que seria melhor: cuspir ou continuar engolindo sangue?
E após analisar esta questão já na lentidão causada pelo álcool, eis que me encontro na pergunta que me faço todos os dias. Acho que o melhor a se fazer nessa circunstancia seria cuspir, mas engolir é mais cômodo, e assim eu não vejo o sangue saindo de dentro de mim e concordo comigo mesmo que está tudo bem.
Eu realmente gostaria de cuspir, mas vou continuar bebendo, e junto com o vinho, engolindo sangue...
Postado por Thami