domingo, 26 de fevereiro de 2012

Como um barco perde o rumo ...

Abri o rack pra pegar uma garrafa de vinho, a última por sinal. Sujei minhas mãos e então pude perceber que estava escorrendo um pouco de vinho pela garrafa. Vinho vagabundo, não é nem de rolha, é de rosca mesmo. Estava quebradiço bem na boca da garrafa, bem quebradiço. Com certeza teria caído alguns vidrinhos ali dentro, mas eu não me importei.

Beber um pouco de vinho antes de dormir me faz bem, me faz adormecer mais rápido sem pensar muito, me faz ter um sono sem sonhos turbulentos.

Parece que a cada gole o muro de Berlim que há dentro de mim vai sendo derrubado, e então meus pensamentos se comunicam com aqueles que estavam do outro lado do muro, e o alivio é imediato e também dolorido.

Em um desses goles eis que sinto algo raspar minha garganta. Era um pedaço de vidro por ali se passando, mas já se foi, apenas mais uma dor no meio de tantas outras que até faz com que amenize essas ‘’outras’’.

Não conto os goles, mas uma aproximação de mais ou menos pelo 9° gole volta o ardor na garganta e então percebo que tem algo escorrendo por ela, e não era o vinho. Sangue. Era sangue.

Então me pergunto o que seria melhor: cuspir ou continuar engolindo sangue?

E após analisar esta questão já na lentidão causada pelo álcool, eis que me encontro na pergunta que me faço todos os dias. Acho que o melhor a se fazer nessa circunstancia seria cuspir, mas engolir é mais cômodo, e assim eu não vejo o sangue saindo de dentro de mim e concordo comigo mesmo que está tudo bem.

Eu realmente gostaria de cuspir, mas vou continuar bebendo, e junto com o vinho, engolindo sangue...

Postado por Thami

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Aos Teus Olhos.


Negro. Negro como o mar da meia noite. Tão escuro quanto a ultima hora antes da alvorada. Toda luz aprisionada no negro dos seus olhos. Íris cor de mel, e pupilas negras. Profundamente negras, capazes de absorver todo o meu universo. Meu mundo. Minha vida.
Na profundidade deste olhar negro, me guio para luzes tão distintas quanto as cores da aurora. Cores mil, dançantes. Me guio para sons e lugares distantes. Polisinese. Míticas divagações e introspecções são despertas ao fitá-los no negro, além de epifanias. Epifanias de quem eu sou.
Este pequeno orifício negro é onde achei o significado de tudo. Minha filosofia. Meus princípios. Os meus olhos refletidos, como um espelho revelador. E enquanto estes olhos negros me instigam, me criam, me nascem, uns outros olhos, amendoados, me cuidam, me saram, e na fusão de negro e mel, me acho amando e sendo amado.
Na missigenação das cores e dos sons, dos olhos e dos meus olhos, me acho perdido, e me encontro aconchegado em braços quentes que me aninham. Me acho assim, quem eu sou, esclarecido e iluminado, forte em meus conceitos, mas assim como sou, me acho fragil em seus braços.
E é assim, e assim será, por todas as vezes que me olhar no negro dos seus olhos, margeados po um mel, tão doce quanto meu amor por ti.