quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Amém.



Medo. Todos nós temos medos. Uns mais que os outros, mas ninguém escapa da tremedeira. Ninguém é forte o bastante para fugir do suor frio, e dos presságios temerosos. Todos nós estamos submissos a algum pavor. Material ou não, todos nós temos medo do sofrimento. Da dor. Nenhum machucado é mais dolorido que as feridas da vida. Cicatrizes que ardem sempre que se lembra, dores insuportáveis. Um choro amargo que nos dói a alma.
A vida nos bate o tempo todo. O tempo todo. Às vezes mais forte, às vezes não. Às vezes em lugares mais sensíveis, às vezes não. Às vezes ela só escarra em nós. Às vezes sangra, às vezes não, mas todo dia nós apanhamos um pouquinho. Às vezes conseguimos nos levantar de novo, às vezes precisamos de ajuda, e às vezes, simplesmente nos entregamos e permanecemos deitados.
A coisa mais difícil do mundo é sonhar enquanto apanha. Nunca devemos deixar de sonhar. Nem mesmo enquanto levamos a surra do século. Mesmo que seja apenas um pouquinho, e somente um pouquinho. Devemos sonhar enquanto a vida nos coloca debaixo dos seus pés, e nos esmurra a face, e nos chuta as costelas. Sonhar enquanto o sangue escorre da nossa boca, nariz e supercílios. Enquanto o calor se apossa de nossas almas e a dor corrói nossos ossos. Sonhar enquanto a vida nos pisa e amassa, e nos converte em migalhas e farrapos. Isso é árduo. Nos consome.
Temos que aproveitar enquanto estamos ali, deitado, rendidos, apanhando, e fechar os nossos olhos, e deixar que nossa alma, mesmo ferida, enxergue adiante. Olhar para frente, para um futuro talvez utópico, talvez não. Não nos importar com os chutes. Com as cusparradas. Temos que cavar o mais profundo de nós mesmos, e desenterrar aquele sonho antigo, e em cima desse mármore abandonado, talhar um novo sonho. Um novo rumo. Uma nova esperança. Esta nova figura, te servirá de bálsamo. De atadura. Cada sonho novo é um pedaço de si que se regenera. Que estanca o sangramento. Que reanima teus pulmões. Que faz teu coração bater mais forte.
Assim, terá forças para se levantar, e se mostrar novo. Preparado para a próxima. E a próxima. E a próxima da próxima. De peito estufado, encarando-a face a face, até que a vida morra. Olho no olho. O ódio dela contra sua coragem. A força dela contra sua vontade. Os murros dela contra seus sonhos. Sonhos são indestrutíveis. Inquebráveis. Incorruptíveis. Pelo menos enquanto estão vivos. Enquanto não são guardados ou esquecidos. Independente dos tapas, dos murros e pontapés que ela vai lhe acertar, permanecerá de pé. Lutando pela liberdade. Pelo seu sonho. Dia após dia, se levantando, batendo o pó da calça, secando o suor com a manga da camisa e sonhando. Sonhando e se regenerando. Sorrindo. Vivendo.
Meu sonho, este que me salva todos os dias, que me da forças para me levantar pela manhã e matar meus leões e enfrentar meus demônios todos os dias, e que me cura durante minha noite, este meu sonho está guardado. Guardado em olhos cor de mel, tão doces quanto. Olhos de cuidado, com um som suave e meigo que me cuida, e sara todas as minhas feridas. Olhos que logo, logo serão meus. Minha alma os vê todos os dias, e eles me dão forças para lutar e conquistar. E todos os dias, ao me deitar depois da labuta, percebo que estão logo aqui, ao meu lado. Prontos para serem meus. Prontos para sermos um. E quando finalmente este sonho deixar de ser sonho, então, seremos um. E sendo um, sonharemos juntos, e lutaremos juntos. E viveremos juntos. E todos nossos medos serão irrelevantes.
Assim seja, diante de Deus. (Amém)

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