quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Possibilidades.

Nada mais faz sentido. A razão sucumbiu aos gritos desesperados da loucura. A insanidade se apossou da mente como um vírus que consome a célula. Como um câncer. Um olhar azul frígido se estancado em sua face inexpressiva, podia ver-se, vez ou outra, um leve marejado, numa tentativa frustrada e recobrar o juízo. Os cabelos grisalhos desarrumados, já compridos pela falta de interesse em cortá-los, sujos e oleosos, e a barba por fazer, com algumas duzias de fios brancos emaranhando-se aos negros, demonstram ser vítimas dos maus dias.

Quantos dias se passaram? Não se sabe. O tempo não caminha mais como antes. Se demora propositalmente, talvez. O faz para atormentá-lo. O corpo magro não sente fome. Não sente sede. Não sente frio. Não sente nada, enquanto caminha por qualquer lugar, em qualquer hora, em qualquer sentido, envolto em seu casaco surrado, comido pelo tempo. O jeans velho já não passa de um trapo, enquanto os sapatos são instrumentos de tortura. O corpo cansado não tem mais vida. Dia após dia, sofrimento. A garganta apertada. A agônia no silêncio da noite. Depressão. Desespero. Neste meio, há apenas um desejo profundo, da alma, de libertar-se. De correr ao infinito. De poupar o corpo do inferno de estar vivo. 

A cada dia, este desejo cresce. Inunda seus pensamentos. Seus olhos contemplam as possibilidades. Por um instante parece sensato. Mas que benefício lhe traria? O desconhecido o assusta mais que a própria vida. Está agrilhoado ao fardo da tristeza. A morte ri de sua fraqueza, enquanto está jogado em meio às fétidas acusações do superego, enquanto a vida lhe espanca e um mísero resquício de lembranças ainda o dá forças para tentar manter-se, porém, a lucidez o abandona gradativamente, e as possibilidades se restringem a falsas esperanças.

Estaria disposto a qualquer coisa para erradicar a dor dentro do seu peito. Para espantar os demônios que o assolam à noite. Para ter paz. Faria qualquer coisa para ter de volta sua razão. Para ter de volta a vida que tinha. Para enfrentar as convicções erradas, e criar novos conceitos. Venderia sua alma, ou o restante dela, para poder aprender tudo novamente. Para rir novamente. Para sentir fome e frio. Venderia a alma para tê-la por um dia.

Somente um dia, e lembraria o que é felicidade.

domingo, 10 de novembro de 2013

As estrelas não brilham

No meio da madrugada, enquanto meninos estouram rojões no morro para avisar a galera do suposto perigo, eu durmo.
As 5h quando a entregadora de jornais está fazendo café antes de ir trabalhar, eu ainda estou dormindo.
Enquanto o servente de pedreiro está comendo sua marmita, as 11h da manhã, eu estou na aula.
Enquanto alguns agonizam em seus leitos de hospitais, estou navegando na internet.
Enquanto a menina vende CDs pirata em um bar ao ar livre, eu como peixe no mesmo bar.
Enquanto a mãe leva o filho para fazer quimioterapia, as 7h da manhã, no ônibus lotado, eu estou me sentindo cansada e injustiçada, no mesmo ônibus, em pé.
Enquanto o cachorro abandonado está procurando comida no lixo, eu estou fazendo carinho na minha cachorra e a achando o cão mais especial e único do mundo.
Enquanto a criança que apanha do pai e tem a mãe com câncer, está na escola em uma tarde no meio da semana, eu estou tentando me enturmar em uma festa cheia de imbecis.
Enquanto essa mesma criança brinca na hora do recreio, eu tomo mais um copo de bebida para ficar mais sociável.  

Postado por Thami

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Alguém sabe dizer o que é normal? Pode parecer tão natural

Acho que fui uma criança um pouco diferente das outras. Acho pelo simples fato de não ter certeza nem do que eu acabei de comer, após descobrir que a cereja em calda que gosto de colocar no sorvete na verdade é feita de chuchu (segundo uma pessoa que diz que trabalhou na fabrica), não tenho mais certeza de nana, nem mesmo se a cereja em calda é realmente feita com chuchu e não com cerejas. Na verdade não tenho certeza nem das cores que vejo a minha frente, pois quem garante que meus olhos não enganam meu cérebro? Ele as vezes é tão bobinho.

Com sete anos ainda chupava chupeta, e não eram chupetas normais, eram chupetas velhas. Não que isso não seja normal, mas eram chupetas ‘’nojentas’’ para ser mais exatas.
Ainda na segunda série levava uma chupeta escondida na mochila para ir chupar na hora do recreio no banheiro, escondida de todos.

Quando ainda menor por volta dos 3/4 anos, quando minha mãe não dava atenção no que eu falava, imitava uma galinha, batendo os braços com os cotovelos flexionados, e cacarejando, ou então imitava uma velhinha com uma bengala. Eu realmente tinha atitudes muito infantis, pois atualmente quando isso acontece eu imito o Cristo Redentor, o Saci-Pererê ou eu canto ópera.  

Queria um carrinho de controle remoto, mas sempre ganhava uma Barbie. Queria ser menino, usar roupas do Mickey ao em vez da Minnie, ser a melhor dos primos no vídeo game e fazer xixi de pé. Mas também achava os meninos atraentes, em especial o Vitor, o menino loirinho e bobinho da minha turma na primeira série, mas quem mais me chamava atenção não era bem os meninos e sim os homens. O professor Eduardo que dava aula pra outra quarta série, que não era a minha, era lindo, e o professor de artes da terceira também era muito bonito, até mais que o Eduardo. O pai da personagem da novela Carinha de Anjo então... Oh my God, e aquele ator do plantão médico também era de tirar suspiros, entre outros que não é necessário comentário.

Essa coisa de querer ser menino passou rápido, com uns 8 ou 9 anos já estava conformada em me equilibrar para fazer xixi em banheiro publico e amarrar o cabelo para ir pra escola, para não pegar piolho.
Após algumas consultas com uma psicóloga infantil minha mãe ficou mais calma ao saber que eu não seria um serial killer ou sofresse de sérios distúrbios de egoísmo e mentais. Só porque fiz uma cirurgia em uma boneca nova, abrindo-a com a tesoura e simulando seu sangue com ketchup e retratar essa cena nos desenhos livres que a professora dava pra fazer, e gritava do nada na sala de aula quando estava tudo muito quieto. Quanto aos distúrbios de egoísmo era só por não querer dividir nada com ninguém, e vender em vez de dar, na hora do recreio quando algum amiguinho pedia um pouco/pedaço do lanche:
- Me da um pouco de amendoim?
- 20 centavos 5 amendoins
- Tá bom, amanhã eu trago o dinheiro.
Ou então:
- Da um adesivo do seu caderno?
- 20 centavos os pequenos, esses maiores é 30 e os grandes 50.

Meus pais notaram quando eu não pedia mais dinheiro para comprar lanche, pois o que eu faturava com as vendas na escola dava pra comprar o lanche e vender em pequena quantia, e me rendeu algumas consultas com a psicóloga. Mas o que mais deu dinheiro foi o caderno de desenho que minha irmã me deu, contendo 50 desenhos feitos por ela, e eu vendi todos a R$1, e os pintados a R$1,50. Neste caso eu já era maior, deveria ter uns 9 anos e proporcionei orgulho para meus pais pela ideia de ‘’fazer dinheiro’’, apesar de ter vendido um presente.

Meu pai dizia que eu tinha espírito de comerciante, mas esse tal espírito foi sumindo com o tempo até desaparecer e hoje eu ser uma ameba com vendas.

Além do Pedrinho, meu namorado imaginário que tive por volta de uns 4 anos de idade, aos 7 tive o Hugo, que não era meu namorado e nem imaginário. Quer dizer, em partes. Hugo, que descanse em paz, era uma bola de plástico em que eu desenhei o um rostinho e um boné. Eu e o Hugo nos divertimos por muito tempo. Nós íamos a vários campeonatos juntos. Ele era uma espécie de Pokémon, mas não era um Pokémon, era uma bola mesmo. Ah, e eu não era a Thami, eu era um personagem também, no qual prefiro não detalhar muito.

Contudo, minha viajem imaginaria não parava por aí. Eu frequentava a ‘’Escola do Banho’’. Na mesma época em que tinha o Hugo. Frequentei a ‘’Escola do Banho’’ por mais de dois anos. Nessa escola tinha vários amigos e alguns inimigos, imaginários é claro, e era... Na hora do banho. Tinha competições como o jogo da bucha e ganhava quem fizesse mais pontos com a bucha. Minha mãe se intrigava do porque quando eu saia do banho o teto estava sempre molhado. Mal sabia ela que eu estava em uma competição superimportante representando a ‘’Escola do Banho’’. Lembro-me quando acertei a bucha na janela e ela caiu para fora do banheiro e encontraram a tal no corredor. Foi complicado explicar já que ninguém me entendia.

Atualmente com quase 20 anos posso dizer que estou melhor dessas viagens, que a meu ver não é nada anormal, mas não posso afirmar que me curei disso. Na verdade acho que não tem cura, pois não deve ser nenhuma doença. Não que eu continue frequentando a escola do banho. Juro que não frequento mais, juro juradinho, já que minhas viagens atuais são mais sofisticadas e a  ''Escola do Banho'' é algo muito fichinha, mas não cabe comentar sobre isso no momento. Talvez daqui umas décadas.



Postado por Thami

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Cresce o Cinza.


Hoje é um dia diferente. Não tão diferente aos olhos do cotidiano, mas sinto, lá no fundo, de maneira sutil e descompromissada, que este é um dia diferente. Hoje é um dia monocromático. Cinza.

O céu é cinza, com nuvens espessas, baixas e disformes. Chuvisca. Aquela água fria, fina e entediante, levada pelos ventos sem destino. A rua do velho hospício também é cinza. Os paralelepípedos desordenados, que insistem em aparecer nos trechos onde o asfalto foi quebrado e esquecido, reluzem ao solene toque da água, como se a chuva fosse uma carícia lenta e amorosa. Brilham sim, mas brilham cinza.

Os prédios, que outrora formavam as vívidas alas psiquiátricas, apesar do conteúdo não ser nem um pouco agradável, agora tão quietos e descoloridos fazem a paisagem afundar em melancolia. A tintura branca, rosada, ou até mesmo aquele tom verde-menta se foram dando espaço à doença cinza que se apossou descaradamente da rua. As paredes cobertas de rachaduras e musgos, e as velhas janelas de madeira com seus batentes comidos pelo tempo dão um aspecto solitário e improdutivo. As grades já enferrujadas protegem o antigo santuário dos jardins, hoje, transformados em lembrança.

Os galhos secos se penduram em corpos frios que, num tempo que há muito já se findou, foram árvores. Flores são desconhecidas. Tudo o que se vê são pequenos arbustos de espinheiros, e o capim velho se arrastando pelos caminhos. Situação calamitosa, digna de pena. As pragas nascem, crescem e morrem todos os dias. Os jardins, com suas mais variadas flores, metamorfosearam-se na personificação viva da depressão, consumindo-se a si mesma num canibalismo visual degradante e odioso. O filho bastardo de um mundo em escala de cinza.

Mas minha alma não mente e jamais me engana. Hoje não é apenas um dia chuvoso na rua do sanatório. Vejo uma pequena coisa diferente, lá longe, subindo, no meio da rua. Singela e serena, anda sorrindo. Não anda, mas flutua com seu vestido coral, encharcado e colado ao seu corpo reto. No meio de um ambiente tão fosco, e sobre uma pele tão branca, o coral parece carmesim.

A cada passo uma nota ecoando. Dança. Gira. Ri. Descalça, não faz questão dos poucos, mas insistentes, paralelepípedos da rua que a fazem deslizar. O cenário não afeta sua alegria. Os cabelos ruivos cacheados voam jogando água pelos lados, enquanto as sardas nas maçãs do rosto observam de cima as pequenas covinhas nos cantos da boca. Estonteantemente linda, na mesma proporção em que é despretensiosa.

Seus olhos verdes não enxergam este mundo. Estão presos distantes daqui, contemplando a própria felicidade. Não veem nada além daquilo que sua mente em devaneios vê. As cores infinitas que formam a luz branca. Sente o cheiro da terra fértil e dos eucaliptos distantes. Ouve o som da música dos pássaros, e a cantoria do vento. Sente a chuva lavar-lhe a pele na mesma medida em que lava-lhe a alma.

Em seus dedos, de unhas comidas e cutículas destroçadas, pende-se uma rosa. Não apenas uma rosa. Um Príncipe Negro. Majestoso, e imponente, com suas pétalas escuras e raras. Um príncipe para uma Rosa, ou uma rosa para um Príncipe?! Não se sabe ao certo, também não se faz necessário saber. O que se sabe é que ela plantou esta rosa, por entre as falhas do asfalto, em frente ao velho portão enferrujado. O que se sabe é que deu as costas e foi embora, do mesmo jeito que chegou, dançando além do chão, sorrindo e vivendo seu mundo. O que se sabe é que trouxe do seu mundo a essência, e a deixou aqui. Plantada no meio da rua. Levou consigo todo o cinza. Levou consigo todo o velho, todo o cotidiano, toda doença. Deixou para nós o seu mundo, o seu olhar.

Deixou para nós o seu jardim, no meio do asfalto, na rua do hospício. Trouxe-nos de volta a loucura que nos faltava. A insanidade que havia morrido e que nos é necessária para sermos felizes, para sermos plenos. Trouxe de novo a beleza das cores, e das pequenas coisas. Dizem que ninguém entende os loucos, mas só aos loucos pertence a sabedoria do mundo.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Estou Bem.




Acomodada no mesmo canto escuro, envolvida em seus braços, longe de tudo aquilo que lhe é posto em volta, ela fica. Está bem. Está quieta. As vozes que a rodeiam, apesar do tumulto constrangedor e desnecessário, não interferem na sua música. Suas músicas. Músicas que ninguém mais ouve. O barulho incomoda os que se julgam melhores, mas ela não faz questão. Ela está bem.

Seus olhos quase negros cintilam nos poucos feixes de luz, e lentamente se fecham enquanto a materialidade se esvai em sonhos. É bela por natureza. Seus dedos se enrolam num pequeno punhado dos seus cabelos castanhos ondulados, como se, de alguma forma, tentasse preservar a atenção em si, fugindo de todo o resto. Fugindo de todo o mundo, de toda futilidade, sempre correndo, sempre bem.

Em sua mente, ninguém sabe o que se passa. Ninguém sabe o que sente, o que pensa, o que gosta. Parece não existir além de si, mas está bem ali. Marcando seu espaço, mostrando sua existência com seu silêncio. Nada se ouve, pouco se vê, mas todos sabem que existe. O contato é restrito e controlado. Suas palavras são calculadas e cheias de educação, soam singelas e desprovidas de qualquer ofensa. Ditas sempre sob um esboço de sorriso. Graciosa. Sempre bem e agradecida, prefere o silêncio. Um anjo. Pelo menos é o que seus gestos sugerem.

Um olhar distante e condescendente, um sorriso apertado, como se olhasse o mundo tentando enxergar-se, e apenas descobre que seus heróis morreram de overdose. Mas é passageiro. Ela está bem. Sempre bem, e agradável. Quieta no seu silêncio. Parece-me uma lágrima no canto do olho esquerdo. Impressão minha, ela está bem.

sábado, 20 de abril de 2013

Let's make this fleeting moment last forever

Nós deitamos no gramado próximo ao planetário, após ver a programação do mesmo, numa sexta à tarde.
- Sempre ouvimos falar do sistema solar, mas e o sistema lunar?
-..., o sistema lunar? Ahahahah
- É, porque pouco é falado dele, tipo, quais serão os planetas do sistema lunar?
- Ahahaha, puta que pariu.
A calça que me esquentava cada vez mais com o calor de 26° C protegia minhas pernas de pinicar por causa do gramado mal cortado.
Dormimos um pouco, ou melhor, cochilamos, com minha perna presa á sua e sua cabeça sobre meu peito. Fomos acordados por uma mosca varejeira.
- Mas e se for muitas moscas varejeiras, então como será o nome dela?
- Atacadeira!
- Ah sim, realmente, faz todo sentido.
- É, porque varejeira é quando é uma só, mas quando são muitas, é atacadeira.
Acho que só dormindo mesmo para evitar o excesso de babaquice.


Postado por Thami

Um pequeno continho

Escrevi a tinta, azul, sobre você no papel branco sem linhas e nenhuma margem.
Fiz dele um avião, em dobraduras. Um avião de papel.
As primeiras dobraduras não deram certo, então no avião ficaram algumas marcas. Marcas do erro, por não saber exatamente de que modo a dobradura traria um bom avião de papel.
Mas ele não ira viajar todos sete mares, nem todos os cinco continentes e tampouco ira chegar até você.
Talvez ele não passe nem da janela do meu próprio quarto.

Postado por Thami

terça-feira, 9 de abril de 2013

Coisas de criança, coisas de adulto


Ele era um pouco maior que eu, uns dois anos mais velho, pele morena, cabelo crespo, passado na maquina um, bem baixinho. Esse foi Pedrinho, meu namorado imaginário que tive com 4/5 anos de idade.
Ele era sempre presente, estava sempre comigo durante as tarde. Tínhamos uma filha, chamada de filha mesmo (a boneca não tinha nome).
Nós íamos passear no bosque enquanto seu lobo não vinha, íamos comer no Mc Donald’s do shopping, brincávamos no balanço e conversávamos na varanda do meu quarto.
O Pedrinho não era o tipo de menino que me atraia, e eu sabia disso. Eu não o achava bonito, e ele era bem quieto. O que mais me soa estranho, atualmente quando me lembro dele, é que eu poderia muda-lo a qualquer hora, já que ele era parte da minha imaginação, mas eu o mantinha da mesma forma.
Não sei por quanto tempo namoramos, e nem como nos conhecemos. Minha mãe sabe mais dele do que eu, já que eu contava tudo para ela sobre ele.
Ele simplesmente sumiu da minha vida, de um dia para o outro, e também não me recordo como foi nossa ultima tarde junto.
Já ouvi várias historias de pessoas que tivessem tido amigos imaginários na infância. Eu, não tive um amigo, mas tive um namorado, e nunca soube de outra criança que também tivesse tido.
Um pouco mais tarde, com uns 8 anos de idade, comecei a criar outro personagem. Mas dessa vez eu não participava da historia, apenas vivia, todos os dias, o meu personagem imaginário, em uma vida paralela a minha.
Esse personagem não parou de existir como o Pedrinho, mas ele mudou bastante no decorrer dos anos, e atualmente, em meio de meus quase 20 anos, ele ainda existe, no escuro do meu consciente.
Ele não é meu amigo, nem meu namorado. Ele nem me conhece, nem sabe que eu existo. Já tive umas participações na vida dele, mas foi como figurante.
Portanto, eu não dou vida para ele todos os dias, como á alguns anos atrás, pela correria do dia a dia, e por ter outras coisas melhores para fazer. Talvez isto seja um amadurecimento, e este ira desaparecer assim como o Pedrinho, e vou substituí-lo com coisas chatas da vida. Coisas de adulto.

Postado por Thami

terça-feira, 26 de março de 2013

Bom Dia Vida.


Mais um dia se inicia, e como de costume, não desejaria abrir os olhos.
Começa com um som. Um ritmo crescente e grave. Compassado. Distante. Aparentemente, desconfio que nem ao menos existe, mas rapidamente percebo que está mais próximo do que imagino. A batida acelera no mais profundo do ouvido, entre a audição e a esquizofrenia, e, a cada tempo, uma pequena dor. Uma leve pontada na boca do estômago, e tal desconforto é igualmente crescente.
A pulsação segue constante, aumentando gradualmente, tanto em velocidade, como em volume, chegando ao ponto de assimilar-se a um ruído ininterrupto, onde nem sequer os pensamentos conseguem ser mais audíveis. Então, quando este ruído fica estarrecedor e caótico, é neste instante que a dor, que outrora era um leve desconforto, eclode e se espalha como uma praga, como uma epidemia, infestando toda e qualquer parte do meu corpo. Tecidos, órgãos, até mesmo a mente.
A musculatura fica tensa. Petrificada. O sangue correndo me parece ter a espessura de um óleo impuro. Queima. As extremidades, por outro lado, estão excluídas desta ardência. A vida esqueceu-se das mãos e dos pés. Frios e rígidos, ambos suam. Minam água. Os membros renegados clamam pelo calor do corpo, tremendo incisivamente esperando qualquer resposta. Grito. Talvez um berro odioso, cercado de temor, com uma sobra imensa de dor. Independente do que seja, grito.
Há contrações por todos os lados. Intestinos, rins, diafragma, todos, infelizmente, se contorcendo como um bando de epiléticos, monstruosamente atenuando a dor. Os pulmões trabalham em vão. Mesmo com todo o ar do mundo ao meu alcance, é insuficiente. Nesta força vil de respirar, junto com o ar, se vai também a voz. Torno-me mudo.
Também se foram os sentidos. A audição se resume ao soar frenético da arritmia, enquanto o olfato se dissipa numa asma mortal. As papilas gustativas morreram, e tudo o que sobrou é um amargo e uma salivação que, para minha frustração, tenta desesperadamente adoçar a boca, enquanto os olhos cegos derramam lágrimas. Lágrimas igualmente amargas. Lágrimas que suspiram desejosamente por um alívio. Por uma paz.
Nada mais faz sentido. Nada mais vale a pena. O mundo é uma ferida cauterizada, suja. Um vazio negro e profundo, fétido, preenchido apenas por agonia e dor. Dor, dor, e apenas dor. Crescente e ininterrupta. Um sofrimento eterno. Duradouro. Infinito. Intensificado a cada segundo, até que, em seu ápice, um clarão e um ribombo arrebatam minha mente.
No corpo, uma dor aguda, como de uma faca penetrando no peito, deslizando por entre as costelas e cravando-se no arco da aorta, assim como uma bailarina desliza em suas sapatilhas sobre o palco, pousando delicadamente sobre o piso de taco encerado. A dor insuportável de uma implosão, acompanhado de um silencio memorável, claro e límpido. Um lindo paradoxo entre a perfeita introspecção e o fim tenebroso, afogado em sofrimento. Segundos, horas, eras. O tempo é indiferente. Um mero acessório desrespeitado.
Faz-se paz. Tão esperada paz. Acaba-se toda a dor. Todo o sofrimento lentamente se vai. Plenitude, com uma marca de esperança cravada na mente. Encontro-me em um estado ébrio. Quieto. O mundo não gira. Os sentidos vão retomando suas funções, um a um, vagarosamente, como se discutissem entre si se são realmente necessários. As cores vão tomando forma. Os cheiros. Os gostos. Os membros vão voltando aos seus costumeiros afazeres. Tudo voltando ao normal. Tudo se sensibilizando novamente, enquanto o tempo torna a caminhar e o mundo a girar.
Levanto-me então, e caminho depressivo para a vida, moído por mais uma noite de abstinência. Abstinência do teu corpo. Abstinência do teu cheiro, do teu sorriso. Abstinência do teu abraço. Dos teus cabelos no meu rosto. Abstinência do teu olhar cor de mel, e dos teus beijos tão doces quanto. Abstinência de te amar como merece.

sábado, 16 de março de 2013

Mãos ao alto: Fique onde está!

Sabe aquele jardim? Aquele em que plantamos aquela semente.
Naquele jardim há uma arvore que é tão velha quanto eu. Envelhecemos mais de 10 anos em menos de 5 meses. Com folhas verdes pelo chão, folhas bonitas, como as da primavera, e nos galhos folhas secas, como as do outono. Mas estamos no verão?

Há algum tempo venho sentindo algo diferente, como se eu tivesse ficado em coma por um tempo e tivesse acordando, gradualmente, ainda mais quando olho aquela arvore. Hoje sinto que despertei totalmente desse sono profundo, regado a sonhos, esperanças, fantasias e pesadelos.

Hoje notei que há palavras que não precisam ser ditas. Há atitudes que não precisam ser tomadas. Há pensamentos que não são necessariamente pensados. Há eu sem você.

Há eu sem você hoje, quando notei que perdi sua foto. Fucei em minha caixinha de porcarias, e não achei a mesma.

Hoje sinto falta por não sentir a menor falta.

Hoje o amor morreu como num assalto a mão armada.

Postado por Thami

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Eu perdi as chaves


Olá, tudo bem?

Então, eu gostaria de pedir minhas borboletas de volta. Aquelas que apareciam no meu estomago, e que você levou-as embora.
Como se não bastasse simplesmente ir, você se achou no direito de levar consigo minhas borboletas, e isso eu não lhe perdoo. Perdoo-lhe por ter partido, mas não por ter as levada contigo.
Seria muito pedi-las de volta? Seria difícil recupera-las?
Eu poderia lhe processar por isso?
Caso você as devolva, gostaria de pedir também minhas outras palavras. Aquelas que não são sobre você, que por coincidência, foi voando junto com as borboletas.
Às vezes sinto que estou perto de recuperar ambos. Um perto que vai se afastando quando estou chegando.

Às vezes sinto que não sinto.
Espero seu feedback.

Obrigada pela atenção.


Postado por Thami 

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

À 240 mil milhas da lua


Estava andando pela rua quando lhe avistei. Você entrou pela minha porta, mas um dia saiu, assim como entrou.
Agora sou uma borboleta no aquário. Este aquário cheio de pedras.
Sou um peixe fora d’água, no asfalto quente.
Sou um tigre na Marginal tiete de São Paulo, cercado por carros, pessoas e poluição.
Sou um poodle na floresta fria e úmida.
Sou um camelo na Antártida, derrapando no gelo gelado.
Mas acima de tudo sou um pinguim no deserto do Saara tendo as miragens mais legais e divertidas que poderia ter.
A maior parte do que eu lembro me faz certo de que eu deveria ter impedido você de sair pela porta. Mas se eu tivesse feito isso, eu teria você sem você. Teria um nós sem nós, e um eu sem eu.
Eu não consigo nem ao menos sofrer, porque sofrer seria menos do que isso que sinto. Não consigo nem sofrer, nem sofrer.


Postado por Thami

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Chove.

Desce a chuva em pleno dia,
Torrencial, água fria,
Escorre, gelada e esguia,
Lava, entre tudo, a dicotomia.

De encontro à pele, mel.
De encontro à alma, fel.
Irrompendo em vôo por todo o céu.
Dissolvendo até o mais negro véu.

Na pele, o simples.
A lembrança dos pequenos fazeres,
Dos esquecidos toques impares.
Lavando o corpo dos males.

Na alma, a introspecção.
A já obsoleta sensação 
de ter um mundo que cabe na mão.
Conhecer-se a si profundamente, então. 

Mas somos seres tricotomicos.
E onde ficam nossos espíritos?
Na água, nos sons místicos.
Pneuma materializada nos pingos.

Nosso espírito feito chuva,
Lavando cada canto, cada curva.
Nosso corpo. Nossa alma, antes turva,
Agora pura. 

Plenitude.



domingo, 13 de janeiro de 2013

O monstro ainda está vivo


Falei para todos que eu o tinha matado, mas menti. Quando descobriram, eu disse que ele estava morrendo, e assumi não te-lo matado, mas que logo teria seu fim.
Menti novamente, um tempo depois, dizendo que ele finalmente tinha morrido, mas caí em contradição novamente, e todos puderam ver, com seus próprios olhos, aquele enorme monstro, que alem de não ter matado, ainda o alimentava.
Tornei a mentir. Alguns não acreditaram mais. Eu não acreditei mais.
Mas quando vi que ele realmente estava morrendo, tentei ressuscitá-lo, logo eu, que sempre o quis ver morto, e assim, não teria mais que mentir e nem entrar em contradição.
Ressuscitei-o, e continuo mentindo e o enterrando ainda vivo. Alguns acreditam na sua morte, outros não mais. Eu acredito, às vezes.


Postado por Thami

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Feliz Ano Novo

Feliz Ano Novo aos que tiveram perdas no ano velho e ainda assim recolhem pedras em suas aljavas. Aos colecionadores de afetos que jamais permitem que suas lagartas se transmutem em borboletas. Aos cínicos repletos de palavras sem raízes no coração.

Feliz ano Novo às bordadeiras de emoções, que gastam a vida desfiando intrigas e agulhando a boa fama alheia. Aos céticos desprovidos de horizontes e aos que debruçam sobre a própria solidão para contemplar abismos.

Feliz ano Novo aos que asfixiam a criança de si e aos que se fantasiam de palhaço para camuflar tristezas. Aos que gastam a vida contando dinheiro, sempre em débito com o amor. Aos que acumulam bens e desperdiçam virtudes, ajuntam poder e semeiam mágoas, galgam a fama e pisam em sentimentos.

Feliz ano Novo aos sonegadores de esperança e aos que crêem apenas nos valores da Bolsa. Aos mancos de bondade, cegos de utopia, ébrios de ambições e medrosos perante a ousadia de viver. Aos que têm asas e não sabem voar, são águias e ciscam como galinhas, guardam em si um tigre e miam como gatos.

Feliz ano Novo aos que se agasalham com gelos e jamais dão ouvidos à sabedoria do fogo. Aos que alugam a própria dignidade e se revestem da ideologia do consenso. Aos que escondem montanhas debaixo da cama, congelam estrelas no bolso e torcem o arco-íris até sangrar.

Feliz ano Novo aos que exibem no pedestal de sua mente o próprio corpo, jejuam por razões estéticas e mendigam aos olhos alheios a moeda falsa da admiração convencional. Aos que ficam inebriados diante da paisagem televisiva e, como Carolina, vêem o mundo passar pela janela. Aos que proferem palavras furtivas, segredam mentiras sonham com elefantes de papel e tentam fugir da própria sombra.

Feliz ano Novo aos voluntários da servidão, aos que amam amar amores e desamores alheios e nunca experimentam o êxtase de uma paixão inefável. Aos crentes desprovidos de fé, aos políticos vazios de senso cívico, aos democratas que engraxam sapatos e dormem ao som de cornetas.

Feliz ano Novo aos que fazem de seus dias tijolos de catedrais escuras, navegam em pingo d’água e jamais perdem tempo com uma criança. Aos que cimentam árvores, fazem pontaria em orquídeas e pintam o verde de marrom. Aos que jamais escutam o silêncio, vociferam palavras sem nexo e tratam seus semelhantes como os motoristas reclamam dos buracos na estrada.

Feliz ano Novo aos que cercam suas almas com arame farpado, abrem com foices seus caminhos na vida e, ainda assim, não sabem que rumo tomar. Aos que traçam labirintos em seus mapas imaginários, enfeitam a vida com buquês de impropérios e rasgam o ventre da água com os seixos adormecidos no leito de seus rios.

Feliz ano Novo aos que cavalgam em hipocampos de feltro grávidos de dinamites, multiplicam teorias para subtrair a prática e escondem o horizonte no fundo da gaveta.

Feliz ano Novo aos que se julgam imortais, incensam a própria imagem e tocam címbalos aos cifrões que servem de prisão aos que estão terminantemente proibidos de tomar em mãos vazias de dinheiro um prato de comida.

Feliz ano Novo a todos os infelizes que fazem de suas vidas Lua minguante e se vestem com o escafandro de seus temores, afogados no sal de um oceano ressecado. Novos lhes sejam o ano e a vida, revertidos e revestidos de ensolaradas esperanças.

Robinson Bucci, 12/2006

Postado por Thami

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Fui amanhã

Entra pra ver como você deixou o lugar, e o tempo que levou pra arrumar aquela gaveta.
Entra pra ver, mas tire o sapato para entrar. Cuidado que eu mudei de lugar algumas certezas.
Entra pra ver, e não se assuste com meus instintos sacanas, que foram acionados, e com a falta de vergonha na cara.
Pois tentei roubar um pouco de paz, e acabei declarando guerra.
Hoje eu falei pra mim, jurei até, que esse não seria pra você, e agora é

Açúcar com adoçante - Cícero
Monomania - Clarice Falcão
Me

Postado por Thami

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Talvez

O céu está nublado, mas eu o vejo azul. Se estiver chovendo, então eu corro na chuva.
Observo o por do sol, os tons de laranja irradia meus olhos, até fazê-los arder.
Se acabar a energia, acendo velas e faço borboletas nas sombras da parede.
Se me atrasar pra aula, só vou ter perdido alguns minutos de chatice.
Filas grandes são boas para observar o comportamento humano.
Se o chuveiro queimar vou sentir minha pele arrepiar, e assim, sentir-me viva.
Se o amor acabar, ou der por acabado, procurarei outro, talvez ache, talvez não.
Afinal, o importante nem sempre importa.


Postado por Thami

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Acho...

Bateu a porta do carro, e apertou os passos até me alcançar:

- Você é muito abusada, sabia?
- Acho que sim
- Você não tem medo não, é?
- Acho que não
- Você é apenas uma menina, já pensou no que eu poderia fazer com você?
- Hm... acho que não
- Você só sabe falar isso? Acho que sim, acho que não
- Acho que sim
- Você está me tirando do sério
- Que pena
-  Olha só, conseguiu falar outra frase sem dizer ''acho''. Onde você aprendeu ser tão irônica?
- Acho que na escola
- (risos)
- Qual seu nome?
- Não digo meu nome para quem ''pode fazer algo comigo'', além de ser apenas uma menina
- Desculpa se te assustei, mesmo que você não pareça nem um pouco assustada, mas olha o que você fez. Primeiro eu dei luz alta para você ir para a faixa da direita e você simplesmente ignorou, e quando chegou aqui você simplesmente pegou minha vaga no estacionamento, eu só quis dizer que você é abusada e que se eu fosse alguém de mau caráter, poderia me vingar de você, por você ser novinha. É perigoso fazer o que você fez, foi isso que eu quis dizer
- Ok, aceito sua desculpa, e sim, você realmente não me assustou, e não foi pela sua beleza, e outra, eu estava em uma velocidade acima do que a via permitia, e se você não viu, do lado direito tinha carretas e caminhões, não dava pra eu mudar de faixa, tando que se desse, você mesmo iria por lá, segundo, não estava escrito seu nome na vaga e também não tinha nada dizendo que era vaga preferencial para louco ou para idoso.
- Ah não, você está me chamando de louco e velho? Eu não tenho nem 30 anos, e louca é você. Se você não sabe a via da esquerda é para quem quer ir rápido. Dane-se se na direita tem caminhão, carreta, bicicleta, patinete, eu queria ultrapassar e você deveria deixar.
- Acho que não deveria
- Você não tem limite
- Thanks, mas agora tenho que entrar pra aula
- Espera!!! Qual seu nome?
- Não digo meu nome para quem ''pode fazer algo comigo''
- Meu nome é Carlos
- Tchau Carlos, tenho que entrar pra aula
- Gostei de você
- Eu sei
- rs, desisto
- Você faz bem
- Qual seu problema? Já me desculpei
- Meu problema? rs. Está desculpado
- Louca

Postado por Thami

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Que Seja Como o Primeiro.



Quando não se entende não se espera. Não se olha. Não se quer. Simplesmente acontece. Inicia-se, e é de repente. Evitar o inevitável só prolonga o anseio da alma e a vontade do espírito. Esperar o que se vai depressa é aprisionar o tempo. É desejar o controle daquilo que se sente. Simplesmente impossível. Diferentemente do que se pensa se faz, pois o que se pensa difícil é de obter, quanto àquilo que se faz nada demais há além daquilo que é natural, como se já soubesse o que deve ser feito.
Pensar é ilusão. É medir as possibilidades. É prever os imprevistos. Pensar requer provas. Requer tempo e plenitude. Pensar exige da mente coisas que estão além do alcance do conhecimento. Exige ideias, criatividade, perfeição. E perfeição é utopia.
Fazer está além do pensar, porém mais acessível. Fazer é descobrir o que já se sabe. Viver o que se sonha. Valorizar as pequenas coisas. Buscar a cada dia um novo motivo. Sorrir dos imprevistos, dos desencontros, das impossibilidades. É frustrar-se com os planos que não se cumprem. É insistir nos planos que se frustram. Insistir naquilo que se quer. Insistir nas diferenças até que sejam igualadas às vontades dos corpos. Enfrentar os medos e entregar-se às possibilidades. Fazer é uma palavra no meio da madrugada. É abstrair-se do tempo. É abraçar. Fazer é desejar conhecendo a imperfeição. Não exige nada daquilo que não temos. Temos tudo o que precisamos ao nosso alcance: saudades, rosas, encontros. Encontros não planejados, surpreendentes de ambos os lados. Fazer é tornar real aquilo que o coração sente. É conquistar a plenitude. Viver e ser feliz.
Do jeito que está hoje, peço que permaneça: ensinando-me a viver. Fazendo-me feliz todos os dias. Nenhuma palavra, nenhuma expressão, nada que se diga ou faça será capaz de demonstrar minha gratidão. Sua companhia, sua amizade, suas palavras, seu abraço, seu amor têm me sustentado até aqui, e, com a graça de Deus, será assim até o fim dos meus dias.
Que nossos corações continuem nos dizendo todas as manhãs uma nova razão para permanecer vivendo. Que nossas mentes pensem menos. Que nossos corpos façam mais. Que nossos espíritos nos ajudem a permanecermos completos, plenos um com o outro todos os dias. Que nossas mentes se encontrem a cada dia, como no primeiro, há quatro anos.
Te amo.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

The child is grown


Meu alto nível de procrastinação me fez meditar sobre algo que me encanou.

Meus pensamentos atuais estão totalmente desalinhados com os passados.

Na infância, não me lembro ao bem o que eu pensava exatamente, mas os adultos que eu achava mais incríveis eram aqueles legais que me faziam rir, me entendiam, ou então fingiam que me entendiam, davam atenção ao que eu falava e não me tratavam como criança. Uma dessas pessoas era minha mãe. Minha mãe nunca ignorou algo que eu disse, que eu me lembre. Nunca disse ‘’isso é coisa de criança’’, para mim. Meus irmãos às vezes não davam muita importância para o que eu falava, mas muitas vezes eu nem percebia isso. Alguns tios me faziam rir, brincavam comigo, e me fazia sentir-me amada. Assim como os outros membros da família. Os pais dos amiguinhos também.

Quando ouvia conversas adultas, sempre gostava de participar e opinar. Era observadora, e sempre dizia para mim mesmo com quem eu concordava e com quem eu discordava.

Quando entrei na adolescência, comecei a mudar meu modo de pensar, o natural a acontecer.
Já na fase adulta, mudei ainda mais meu modo de pensar e ainda mais minhas atitudes. Em relação a tudo: estudos, futuro, dinheiro, relacionamento, amor, família, amigos, bebidas, entorpecentes.

A única coisa que continuou intacta foi meu gosto musical, e disso eu tenho orgulho. Mesmo ouvindo Xuxa durante a infância, eu também gostava de Beatles, quando minha mãe coloca para tocar, e sempre me repugnou os pagodes que minha irmã ouvia.

Atualmente, vejo que meus pensamentos e conceitos dos atos adultos vistos de quando eu era criança e adolescente, são bem mais certos do que eu tenho praticado.
Talvez pela pureza, pela inocência e pela falta de pratica da vida.

Imagino-me com uns 12 anos, vendo eu, agora, já na fase adulta, fazendo o que tenho feito, pensando o que tenho pensado, o que eu acharia de mim?

Acho que aos meus olhos de criança, me acharia um pouco chata, mas não tanto. Aos meus olhos de adolescente, por volta dos 12 anos, me acharia completamente burra. Sim, burra seria a palavra que me definiria. Burra em relação ao futuro, dinheiro, relacionamento, amor, família, amigos, bebidas e entorpecentes. Por outro lado admiraria meu lado acadêmico, por estar pelo menos tentando alguma porra.

Eu atual, visto como eu era como criança, orgulho-me e admiro-me. Visto como eu era quando adolescente, sinto um pouco de vergonha, pelas idiotices típicas desta fase, e ao mesmo tempo também sinto orgulho.
Mudei como todos mudam. Evoluí, eu acho, se para melhor, depende muito do ponto de vista.

Postado por Thami

domingo, 9 de setembro de 2012

Eu ri, de doer o abdômen

Peguei o carro, passei na casa da Iza pega-la. Entrei, conversamos um pouco de besteira e rimos. De lá fomos buscar o namorado dela, e depois fomos pra casa de um casal de amigos dela. Ia rolar uma maratona de jogos de kinect. Eu não joguei, não me senti a vontade, afinal, não conhecia ninguém, além da Iza e do namorado dela. Eram 3 casais, mais 4 meninas, contando comigo, e um amigo de alguém. Fizemos vaquinha para comprar uma daquelas pizzas gigantes, mas o delivery não entregava lá, então me ofereci para buscar a pizza, para ser simpática e fazer alguma coisa além de ver as pessoas dançando que nem idiotas na frente da TV.
A Iza e o namorado foram comigo, e mais um casal, para irem me guiando e não nos perdermos.
Além das viradas bruscas, por consequência dos guias que avisavam em cima da hora o momento de virar, estacionei em uma rua para pegarmos as pizzas, daquelas ruas que parecem que são em péé, e faz um angulo de 90°. Mesmo com o freio de mão puxado, o carro começava a descer, então engatei primeira e o bendito ficou ali, paradinho.Mas enquanto isso o coração da galera foi a mil. Descemos para pegar as pizzas, duas caixas GIGANTESCAS, que não cabia com o pessoal atrás, então foi na frente com a Iza, tampando metade do painel do carro. Era hora de sair, de subir aquela rua em pé, ou melhor, de escalar aquela rua com um carro com 5 pessoas dentro. Liguei o carro, fui soltando a embreagem e acelerando, e o carro ia descendo, e a galera atrás gritando, parecia que todos estavam em uma montanha russa, sem equipamentos de segurança. Então uma das meninas deu a ideia de ir soltando o freio de mão enquanto eu acelerava. Se o carro descesse mais meio centímetros iriamos bater na moto que estava atrás. Após conseguir sair de lá, começamos todos a rir. Eu ri, eu também ri.
Chegamos, comemos a pizza, algumas pessoas jogaram mais um pouco de kinect e fomos embora. Ainda bem, não aguentava mais ficar lá.

Sábado fomos comemorar o aniversário da Aline. Peguei o carro, passei na casa da Iza, depois passamos pegar a Aline e a Tami. A casa da Tami fica em uma rua tipo a que fica a pizzaria. Que faz um angulo de 90°. Dessa vez tinha os pais da Tami na sacada pra poder assistir o carro descendo enquanto eu acelerava pra ir pra frente, mas fizemos o esquema do freio de mão e funcionou, não passei tanta vergonha.
Curtimos o aniversário e chegou a hora de ir embora. Eu estava com vontade de fazer xixi, mas dava pra chegar em casa. Quer dizer, eu achei que dava.
Entramos no carro, deixei a Aline e a Tami, e depois fomos rumo a casa da Iza. Estacionei e a Iza descendo do carro fez algum comentário, que não me recordo no momento, mas começamos a rir muito, e a Iza, já fora do carro, sentou na calçada morrendo de rir e começou a fazer xixi, enquanto eu tirava o cinto pra também descer do carro, não conseguia segurar, a cada riso saía um pouquinho de urina. Quando finalmente consegui tirar o sinto e sair do carro, já não tinha mais quase nenhum liquido na bexiga.
Sentamos na calçada, as 5h da manhã e riamos, riamos muito daquela cena. Não conseguíamos pronunciar se quer uma palavra.
Fico imaginando alguém passando e vendo aquela cena. Duas mulheres sentadas na calçada, de vestido, rindo loucamente, com a porta do carro aberta, por terem feito xixi.
Sim, estávamos bêbadas. Era o efeito da cerveja misturado com tequila. Entrei no carro, com o banco todo molhado e fui pra casa, rindo, rindo muito, e pensando o que eu diria pro meu pai.
Eu ri o caminho todo, quando cheguei em casa, não aguentava de dor no abdome, de tanto rir.
Entrei em casa, peguei alcool e joguei no banco. O sol já estava nascendo, e eu lá, limpando o banco feito xixi, por mim mesmo.
Deixei o vidro do carro um pouco aberto, e fui dormir.
Quando acordei meu pai comentou que o banco do carro estava meio molhado, e perguntou o que aconteceu. Eu disse que tinha derrubado um pouco de cerveja, mas que tinha limpado com álcool. E realmente, a unica coisa que tinha naquela banco era cerveja misturado com aguá e o álcool de cozinha.
Não ficou cheiro algum no carro. Acho que era aquela urina limpinha de quando se toma bastante cerveja.
O banco já secou, e não há vestígios nenhum de xixi, tipo cheiro ou algo do gênero. Nem meu vestido ficou com cheiro ruim. Menos mal...


Postado, vergonhosamente, por Thami

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Guns


Sempre achei ridículo pessoas que só pensam em dinheiro, e fazem um curso e trabalham com o que não gostam só por causa do maldito dinheiro. Mas ultimamente tenho me visto querendo fazer o mesmo. Entrar de cara em algo que não gosto, mas que pelo menos me de um futuro financeiro garantido. Mas ai penso se isso realmente vale a pena, se é isso que quero para mim, e sinceramente, esta é uma questão que não sei responder. Não sei se prefiro trabalhar com algo intermediário, que eu nem ame e nem odeie, mas que me satisfaça um pouco, e ganhar o suficiente para viver, ou fazer algo que inicialmente eu não goste, mas que futuramente possa gostar, ou não, e ter um pouco mais de grana. Não sei a resposta, mas terei que decidir, logo. Mas confesso que isso não tem me preocupado tanto, mas sim me deixado um pouco confusa.
Queria ser mais egoísta, mais fria, mais egocêntrica. Queria ser menos emoção, e mais paciente, queria ser menos eu atualmente, e ser um pouco do eu passado.
Finalmente consegui tirar habilitação. Depois de vários meses de estresse e ansiedade, mas ontem quando fui busca-la, não senti aquela sensação de liberdade que eu achei que iria sentir.
Perdi meu cartão do banco, de débito, e não está sendo fácil resolver este problema, pois exige tempo e paciência que eu não tenho (tempo até que tenho), agora não consigo fazer mais nada na minha conta. Não consigo sacar o pouco de dinheiro que tenho, e só daqui a 15 dias que posso buscar meu novo cartão.
Às vezes ter muita liberdade de escolha não é legal. Às vezes queria alguém que colocasse limites e me impedisse de fazer algumas coisas, alguém que opinassem nas escolhas que eu deveria fazer, para não ficar com toda responsabilidade para mim, nem que eu fizesse tudo ao contrario.
Também queria ser menos apegada as coisas e as pessoas, assim seria possível conhecer novas pessoas e não ficar a espera daquelas que já fazem parte do meu ciclo, pois essas pessoas, ao contrario de mim, tem outros ciclos de amizades.
Tenho preguiça de conhecer gente nova, por mais interessantes que pareçam. Talvez por não serem tão interessantes assim, ou eu.
Tem dias que acordo sem sono as 5:30 da manhã, mas falto na primeira aula por pura preguiça de levantar da cama, e fico lá, convencendo a mim mesmo que ainda estou cansada e com sono, e por isso não devo ir para primeira aula. Às vezes o dia parece uma rosa: de manhã está linda e formosa, mas à tarde já está murcha. Ou de manhã está murcha e durante o dia vai se aflorando. Mas tem dias que são como flores de plástico, e permanece bela durante todas às 24h. Preciso de mais dias como flores de plástico.
Estou enrolando a mais de 6 meses para resolver o problema do meu maxilar e dos meus dentes, e mais de 10 para arrumar meu óculos que está torto, e agora sem uns parafusinhos. Acho que é pelo fato de eu não querer usar aparelho e não gostar de usar óculos. Mas tem coisas que eu resolvo tão rápido, tão instantâneo. Mas são poucas.
Tem um estoque de salgadinho e bolacha no meu guarda roupa, mas eu não sinto vontade de comer. Mas se não tiver, da vontade de comer até porta do guarda-roupa.
Por falar em guarda-roupa, não aguento mais minhas roupas. O guarda-roupa está lotado, as gavetas mal fecham e não tenho mais cabide sobrando, mas eu uso apenas 30% do que está dentro dele. Umas eu já usei tanto que já enjoei, outras eu nunca gostei muito, outras já estão velhas e fora de moda, e os outros 30% sãos as que eu uso repetidamente.
Perdi uma caneta bic azul de novo. Não sei o que acontece com minhas canetas azuis. As outras cores até que duram por mais tempo. 
Ultimamente a maioria das pessoas a minha volta tem sido como canetas bic azul. Perco-as, me fazem falta logo de instante, mas depois já se tem outra, o problema é sentir que está se perdendo uma caneta de ''tic-tac'' daquela que você tem desde o fundamental, ou aquela que ganhou de alguém especial, que você sempre vai lembrar. O bom é que ninguém morre por causa de uma caneta.
Tenho comido bastante. Como até sentir-me cheia. E depois fico sentindo aquela sensação ruim. E sempre faço isso, sempre. 


Thami

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Nascem os Poetas.


Tenho me cansado ultimamente do fardo de estar incluído na sociedade. Tenho me cansado de estar rodeado de pessoas tão comuns quanto seus assuntos. Estou cansado de permitir que a futilidade permeie meus ouvidos e meus olhos. Os seres humanos continuam sendo (por mais que os tenha ignorado por estes dias, por mais que eu tenha me apaixonado e focado meu corpo e minha alma nesta paixão) os mesmos animais mesquinhos, egoístas e hipócritas de sempre. Nenhuma novidade a ser acrescentada.
Tenho visto que a técnica primitiva de esperar que outros seres mentalmente evoluídos carreguem seus fardos e labores permanece arraigada nas terras mais profundas das mentes, tornando-se quase uma tradição. Escorar-se nas mentes mais bondosas para não haver necessidade de exercer esforço físico e (por mais absurdo que seja) mental é um fato corriqueiro do mundo. Mentes evoluídas são desprezadas quando rebelam-se. O tratar bem, quando se esgota, vira má vontade. Desprezam-se os intelectos. Desprezam-se os bons. Desprezam-se os que amam. E o desprezo vira libertação.
Nietzsche disse que quanto mais aprisionado o coração, mais livre o espírito. Entendendo-se que o coração é o instinto do corpo e os sentimentos da alma, e o espírito é toda a razão e intelecto e divindade humana, aí está a verdade: seres mentalmente oprimidos pela ignorância das massas libertam-se de formas incompreendidas. "Incompreendidas". Tal libertação é estupenda. Graciosa. Forte. Incoerentemente perfeita. É um parto, e desta liberdade nascem os poetas.
Letras inconformadas com a escravidão mental do mundo, descrevendo as dores próprias dos pesares que a vida social impõe. As dores que apenas os oprimidos têm ciência. Dores de enxergar além daquilo que está posto, além daquilo que existe, e estar impossibilitado de chegar à visão. Impossibilitados de estabelecer parâmetros para atingir aquilo que se almeja. Dores de amar quando não existe amor. Oprimir o corpo e a mente para sustentar ignorantes, e libertar o espírito de forma mais pura e verdadeira: poesia; seja em prosa, seja em verso. E desta forma foi convencionado que a poesia é a dor em palavras. A tristeza do autor é a maravilha de sua obra. Uma convenção complexa para uma verdade simples: evoluir em agonia para chegar à perfeição.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Constatação.


A constatação é que são um, mesmo que separados por um vento, presos por um querer, assustados por um tempo, juntos por uma dor. De fato, são um, ainda que esperando no desejo, sedentos de saudades, aflitos na distância. São um unidos pelas lágrimas. Lágrimas frias e quentes, doces e salgadas, únicas e, simplesmente, únicas. Lágrimas que correm da alma para os olhos, e juntas escoam pelos corações distantes. Lágrimas de alegria, de esperança e da dor da frustração. Lágrimas de um desejo quase incontrolável. Lágrimas de uma repressão ainda maior. Uma tortura impronunciável.
Choram. Desesperados. Mentindo uma satisfação para os olhos alheios. Mentindo com sorrisos e palavras doces as lágrimas amargas em que lavam seus rostos. Mentem a felicidade. Uma felicidade que ainda não lhes pertence. Mentem, inventando desculpas e motivos, tantas vezes torpes, para se apegarem. Inventando significados para suportarem o insuportável, mutilando seus próprios espíritos em prol de uma ilusão. Mas o fazem juntos. Separados pelos sete infernos e seus demônios. Separados pelos céus e mares, e por toda crosta continental do impossível, mas se mantém juntos para sustentarem, em dor e agonia, a utópica alegria.
E por quanto tempo mais assim será? Por quanto tempo mais haverá dor? Por quanto tempo mais sustentarão mentiras? O vento não cessará de soprar na direção contrária? O querer não há de permitir a possibilidade? O tempo se demorará por mais tempo? O desejo não se satisfará? A saudade não será esquecida? A distância jamais será extinta? Quando as lágrimas serão enxugadas? E a promessa? Quando há de se cumprir?
Tanto se pergunta. Tanto se chora. Tanto se sofre. Já nem se sabe mais certeza alguma. Só restam dúvidas. Dúvidas e uma única constatação: que são um. Que por serem um, jamais desistirão. Que por serem um, jamais se abandonarão. Nem que haja mais sofrimento. Nem a imposição do vento, tampouco a impossibilidade do tempo, ou a repressão da alma e a forma da ferida, a tortura do frio das noites, o sarcasmo da mente só, as circunstâncias do mundo, e todas as lágrimas derramadas, nem o tanto que a vida castigue, será suficientemente grande para desatar este laço, e ruir os alicerces desta constatação. Nunca deixarão de ser um, até que, de fato, sejam um. 

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Life

O universo estava quente e denso, mas então ele começou a expandir, a cerca de 14 bilhões de anos atrás. Então começou a esfriar, não tão simples assim, mas esfriou. Começaram a surgir partículas elementares: elétrons, pósitrons, fótons e neutrinos. Com o resfriamento gradual, tais partículas começaram a formar as chamadas ‘’ligações estáveis’’, dando origem aos átomos de hidrogênio e hélio. E depois de bilhões de anos, depois de pequenos (grandes) acontecimentos, a matéria foi evoluindo, os elementos químicos foram aparecendo, de após cerca de 3,5 bilhões, apareceram as primeiras células vivas, que com o tempo também foram sofrendo alterações, evoluindo, até darem origem ao primeiro ser vivo. E com o passar de milhões de anos surgiu à vida humana, como conhecemos e somos hoje.

Mas para que? Porque eu estou aqui agora digitando este texto? O que eu devo fazer? Devo satisfazer-me, já que sou fruto deste mundo? O que eu não devo fazer? Afinal, o que eu significo? Será que significo?

 ...

 E então, Deus após criar todo o universo em seis dias, descansou no sétimo. Criou o homem a sua semelhança, o fez cair em sono profundo, tirou uma das costelas, e dela criou a mulher, para ser sua companheira. Eles viviam no paraíso, mas pelo pecado, o homem teria de trabalhar para sustentar-se, e a mulher sofreria a dor do parto. E com o passar dos milhares de anos, e com a reprodução humana, cá está toda esta população, como conhecemos e somos hoje.

Mas para que? Porque eu estou aqui agora digitando este texto? O que eu devo fazer? Devo satisfazer-me, já que sou fruto de Deus? O que eu não devo fazer? Afinal, o que eu significo? Será que significo?

Mas afinal, de que importa? Já que estou aqui, com boas ondas cerebrais, batimentos cardíacos, sangue correndo pelas veias, com todos os sistemas em ordem (ou nem tanto assim), de que importa? Simplesmente não importa. A vida é dura, por mais que esteja boa, nunca estamos satisfeitos, então á achamos dura, e por ser dura se torna uma tremenda bosta, mas é a que tenho, é a que vou viver, sendo uma bosta ou uma maravilha, até que acabe.

 Postado por Thami

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Serei Ontem.


Hoje me esqueci que haverá amanhã. Hoje esqueci que havia futuro. Esqueci que vivia. Hoje simplesmente não existi. Não pensei. Não vi, tampouco ouvi. Hoje não fui. Não cheguei. O hoje não me pertenceu. Não sei ao certo o porquê, mas não me encontro no presente. Estou preso em algo que não é o agora. Estou desfalecendo certamente, mas não sinto. Não me sinto. Não sei quem sou, o que sou, ou por que sou. Estou estagnado num vácuo eterno, agrilhoado e morrendo num presente que não sinto ser meu.
Busquei em minha mente uma razão para o meu estado presente. Encontrei escuridão. Uma linha tênue entre a esquizofrenia e a completa insanidade. Não havia mais luz no meu raciocínio. Busquei lógica para explicar o sentido disto. Achei o vento. Totalmente sem rumo, soprando para todos os lados, tempestuando a coerência da minha vida e varrendo qualquer vestígio de ciência da minha mente. Procurei um motivo para ter existido hoje. Só achei um vazio. Um vazio que aumenta a cada hora de hoje. Um dreno que se alimenta de memórias e sentimentos e de toda minha essência. Um dreno que me drena de mim mesmo. Pensei que quando o amanhã chegasse tudo voltaria a ser como é de costume, mas me dei conta de que quando o amanhã chegasse, seria hoje. E hoje não existo.
Isso me é estranho. Sou estranho. Fiz-me estranho. Mas sou estranho só por hoje. Se hoje não existo, e amanhã não existirei, penso então que vivo ontem, pois ontem já não é mais hoje. É redundante, mas é aquilo que me convém. Sinto-me obsoleto por ser passado. Viver no passado. Ser o passado. Pergunto-me sobre ontem. O que fui ontem? Como existia ontem? Lembro-me de poucas coisas. Ontem eu viva. Ontem eu acontecia. Ontem eu era alguém. Ontem eu tinha razão. Ontem eu tinha lógica. Ontem eu tinha um motivo. Ontem eu tinha você.
A luz que ilumina a minha mente e me faz pensar. Faz-me enxergar o mundo e tudo aquilo que nele habita. A luz que faz de mim um ser vivente e racional. A direção que sigo destemido e provido de sabedoria. O caminho a ser trilhado de forma segura, coerente e lógica. Aquele tudo que preenche o meu vazio e inunda minhas veredas de sentimentos essenciais e que nada é capaz de conter, secar ou destruir. Meus alicerces. Minha vida. Meu passado concreto, meu presente incerto e meu futuro desejado. Vejo tudo isto preso ao passado, na memória distante, pois ontem foi minha e hoje não a tenho. Agora, preso no abismo da solidão que a distância entre nossos corpos criou, vejo, compreendo, e desejo, tê-la em meus braços novamente, pois em minha revelação, aprendi que me é necessário te ter para viver. Enquanto não for minha novamente, estarei aqui vegetando, estagnado no tempo. Preso às lembranças do passado, me afogando no desespero da distancia, morto para meu próprio existir, querendo ser tudo aquilo que fui ontem. 

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Mas e agora? estarei mais livre?


''Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar mas que fazia de mim um tripé estável. Essa terceira perna eu perdi. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que nunca tive: apenas as duas pernas. Sei que somente com duas pernas é que posso caminhar.Mas a ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta, era ela que fazia de mim uma coisa encontrável por mim mesma, e sem sequer precisar me procurar

Estou desorganizada porque perdi o que não precisava? Nesta minha nova covardia - a covardia é o que de mais novo já me aconteceu, é a minha maior aventura, essa minha covardia é um campo tão amplo que só a grande coragem me leva a aceitá-la -, na minha nova covardia, que é como acordar de manhã na casa de um estrangeiro, não sei se terei coragem de simplesmente ir. É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo. Até agora achar-me era já ter uma idéia de pessoa e nela me engastar: nessa pessoa organizada eu me encarnava, e nem mesmo sentia o grande esforço de construção que era viver. A idéia que eu fazia de pessoa vinha de minha terceira perna, daquela que me plantava no chão. Mas e agora? estarei mais livre?''

A paixão segundo G.H - Clarice Lispector

Postado por Thami

segunda-feira, 25 de junho de 2012

O inverno é gelado


Ele abriu os olhos, naquela manhã de segunda feira de começo de inverno. O sono era tanto que pensou em desistir de tudo só para continuar ali, dormindo, em sua cama quente e confortável.
Mas infelizmente as coisas não são simples nem para simplesmente desistir de tudo.
Então ele sentou-se, e ficou ali, por alguns minutos esperando o tempo passar para então ficar de pé.
Colocou a roupa, escovou os dentes, entrou na internet e leu as noticias matutinas. Tomou o café da manhã, com pressa, como sempre, e foi para a batalha diária.
No caminho, começou a admitir para si mesmo o quanto os apegos tem poder sobre sua vida, sobre seu humor, sobre sua vontade de viver, e que alguns capítulos têm de ser terminados, mesmo sem o final esperado, para que assim, um novo capítulo possa ter um começo.
As memórias não podem ser apagadas, e seria uma covardia apaga-las se fosse possível, já que são elas que lhe dão a essência de seu ser. Desapegar não é tão simples quanto parece, mas ele colocou algumas regras para que isso se tornasse possível:

Regra número 1: Foda-se
Regra número 2: Foda-se também
Regra número 3: Fuck you


Postado por Thami

domingo, 13 de maio de 2012

Dedicado a você


 Às vezes quero dizer tanta coisa que acabo por ficar em silencio. O assunto foge, com todos, e não há como disfarçar. Não é mau humor, não é nada de errado, apenas uma dor no peito. Talvez "tristeza" defina um pouco, mas não por si só. Só queria ficar ali, abraçada, com você.
Parece que o tempo nunca é o suficiente, e que sempre estamos contra ele. Na hora da despedida é sempre a mesma dor, mas com um pouco de alegria por saber que vou vê-lo novamente. Isso estimula os próximos dias, para que os mesmos não se naufraguem tanto na saudade.


Dedicado a você, Milton A. Soares Jr.


Postado por Thami

domingo, 6 de maio de 2012

Nascidos para morrer


Seu despertador tocava às 6h da manhã, então ele acionava a soneca do celular até se atrasar. Vestia-se rapidamente enquanto sua mulher arrumava a criança. Então ele pegava a criança, deixava-a na escola e ia para o trabalho.

No trabalho os dias eram sempre iguais, quando tinha um problema muito grande para resolver, até que o mesmo passava mais rápido.

Passava pegar a criança na escola integral e voltava para casa. Nas sextas a noite tomava uma cerveja com o pessoal do trabalho e fazia sexo com a esposa. No sábado acordava um pouco mais tarde, inventava algo para matar o tempo e a noite fazia sexo com a esposa novamente. No domingo tinha sempre aquele almoço tradicional com direito a macarronada e frango assado, a tarde era entediante e a noite já trazia a lembrança da segunda feira que logo iria começar. Os dias eram sempre iguais, até os orgasmos eram sempre iguais.

Em alguns feriados prolongados desciam para a praia mais próxima, pegavam transito, e voltavam para casa com a pele ardendo. Às vezes rolava um churrasco em família ou o que a empresa proporcionava para os funcionários. 

Foi promovido, aposentou-se, morreu.


Postado por Thami

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Sendo Assim Mesmo

Pedistes-me pouco, mas digo que é muito. Me pedistes um beijo, um abraço, e uma promessa. Pois nego teus pedidos e te darei novas coisas, pois estas há tempos já se passaram.
Ao teu beijo digo que nenhum beijo será forte como a última vez. Nenhum lábio se tocará como a última vez. Da última vez para agora já nem somos os mesmos. Somos seres novos, diferentes. Únicos. Será tudo novo. Nenhuma intensidade definirá o que somos e fazemos. Poderá ser mais suave sendo mais intenso, como poderá ser mais frio sendo quente. Poderá ser o que somos, e sendo o que somos saberás outro beijo.
Ao teu abraço digo que nenhum tempo será suficientemente grande para medir a intensidade dos nossos enlaces. Somos kairós, aquilo que não se conta. Chronos morreu para nossos abraços. A eternidade é uma questão de consideração e intensidade. Aquilo que se quer se eterniza na alma, e não se sabe se acabou, mesmo já findo. Sabendo então que a eternidade é definida pelo desejo do teu querer, te abraçarei, e só tu saberás o tempo que levará a eternidade nos braços que te envolvem.
Me pedistes para levar-te para mim. A isto te digo que não necessitará fugir para ter-me por perto. Não precisará correr para onde a terra acaba para ter-me só. Irei até ti, mas não a trarei comigo quando me fores, pois ainda não é chegada a hora. Um canto qualquer em teus braços já é refugio, e lembra-te disto: faz eterno este refugio.
Lembra-te também de que nenhum esforço será em vão. Nenhuma distância será longe o suficiente para nos afastar. Precipitem-se as estrelas, e rasgue-se o céu. Que o Sol enegreça e que a Lua sangre, que o amanhã nunca chegue, e que o dia de hoje não chegue ao fim. Que os dias durem anos e não haja mais noites para o descanso, e que a insônia seja tua companhia nas madrugadas. Mesmo assim, valerá a pena cada segundo. Não se importe que o inverno bate à porta. O inverno chega para todos, e além deste, muitos outros virão. Um verão longo é um inverno vezes mais longo. Vezes mais seco. Vezes mais frio. Guarde tuas lágrimas. Quantas puder. E agora, enquanto ainda é outono, lembre-se: para cada folha que cai, a primavera trás duas rosas. Minhas rosas.
Pediste-me que não a deixes nunca. É medo isto que sentes, não é? Pois repreenda teu medo, e firme-se nas minhas palavras quando digo que não estás sozinha nunca. Mesmo no silêncio, o vento sussurra minhas promessas. Estou onde queres que esteja. Falo o que seus ouvidos me pedem. Faço o que sua alma me ordena. Não me peças força. És rainha, tens força onde não imaginas, minha pequena boneca de pano. Caminhe até mim, assim mesmo como estás, sem mover-se. Mesmo sem sentir, aqui estou, ao teu alcance. Logo aí, guardado em teu peito, e cravado em tua mente. Toque-me com teu espírito. Sinta que estou contigo.
Sorria na amargura da minha ausência, pois sei que há esperança de um dia ver-te sorrir, pois só assim, seremos um, e como um viveremos pelo resto de nossos dias.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Se você pudesse mudar apenas uma atitude passada, qual seria?

Eu estava na 5° ou 6° série do ensino fundamental, tinha por volta de 10/11 anos de idade. Como na maioria das vezes, eu saia da escola, passava em casa almoçar, ia para a loja do meu pai, e ficava lá durante toda à tarde.

Em uma dessas tardes, eu estava na porta da loja olhando para a rua e vi que vinha um senhor subindo-a lentamente. Ele usava calça preta, uma blusa e um casado também preto. Aparentava ter em média 60 anos, tinha barba grande e bem branca.

Entrei de volta na loja e disse para minha irmã que estava mexendo no computador: ‘’Tem um velho todo de preto subindo a rua, acho que ele vai entrar aqui’’.

- ‘’E daí?’’

- ‘’Sei lá ’’

Minha irmã avisou-me que ia sair, mas que logo voltava, aproveitando que o movimento estava fraco.

Logo após da minha irmã sair, o velho todo de preto, de barba grande e branca entrou na loja. Ele começou a contar algumas moedas, bem lentamente. Eu fiquei ali, olhando para ele de trás do balcão. Depois de alguns minutos, ele juntou todas aquelas moedas, andou lentamente até o balcão, colocou-as lá em cima e me pediu, com uma voz bem baixinha e rouca, para eu trocar aquelas moedas para ele.

Eu disse que não podia, porque que não tinha para trocar. Então ele retirou as moedas do balcão, e caminhou lentamente até a porta, e agradeceu-me.

Assim que ele saiu, eu fiquei me perguntando o porquê eu não troquei o dinheiro para ele, e então me justifiquei de que era porque eu estava com medo, já que ele era meio estranho. Mas não, eu não estava com medo dele, muito pelo contrario, ele passava uma imensa passividade. Eu não entendi, e não entendo até hoje o porquê eu não troquei as moedas.

Naquela noite, eu não consegui dormir, e passei por diversos dias pensando naquilo, me sentindo mal com aquela atitude, e querendo encontra-lo na rua para pedir no mínimo desculpas e me justificar.

Então, se eu pudesse mudar apenas uma atitude passada, não seria ter evitado alguma briga, ou concertar algumas das coisas estúpidas que já fiz, mas sim ter trocado o dinheiro para aquele senhor.

Pode parecer um pensamento exagerado e moralista, mas isso é realmente uma das atitudes que tive que mais me incomoda.


Postado por Thami