quarta-feira, 8 de maio de 2013

Estou Bem.




Acomodada no mesmo canto escuro, envolvida em seus braços, longe de tudo aquilo que lhe é posto em volta, ela fica. Está bem. Está quieta. As vozes que a rodeiam, apesar do tumulto constrangedor e desnecessário, não interferem na sua música. Suas músicas. Músicas que ninguém mais ouve. O barulho incomoda os que se julgam melhores, mas ela não faz questão. Ela está bem.

Seus olhos quase negros cintilam nos poucos feixes de luz, e lentamente se fecham enquanto a materialidade se esvai em sonhos. É bela por natureza. Seus dedos se enrolam num pequeno punhado dos seus cabelos castanhos ondulados, como se, de alguma forma, tentasse preservar a atenção em si, fugindo de todo o resto. Fugindo de todo o mundo, de toda futilidade, sempre correndo, sempre bem.

Em sua mente, ninguém sabe o que se passa. Ninguém sabe o que sente, o que pensa, o que gosta. Parece não existir além de si, mas está bem ali. Marcando seu espaço, mostrando sua existência com seu silêncio. Nada se ouve, pouco se vê, mas todos sabem que existe. O contato é restrito e controlado. Suas palavras são calculadas e cheias de educação, soam singelas e desprovidas de qualquer ofensa. Ditas sempre sob um esboço de sorriso. Graciosa. Sempre bem e agradecida, prefere o silêncio. Um anjo. Pelo menos é o que seus gestos sugerem.

Um olhar distante e condescendente, um sorriso apertado, como se olhasse o mundo tentando enxergar-se, e apenas descobre que seus heróis morreram de overdose. Mas é passageiro. Ela está bem. Sempre bem, e agradável. Quieta no seu silêncio. Parece-me uma lágrima no canto do olho esquerdo. Impressão minha, ela está bem.