terça-feira, 26 de março de 2013

Bom Dia Vida.


Mais um dia se inicia, e como de costume, não desejaria abrir os olhos.
Começa com um som. Um ritmo crescente e grave. Compassado. Distante. Aparentemente, desconfio que nem ao menos existe, mas rapidamente percebo que está mais próximo do que imagino. A batida acelera no mais profundo do ouvido, entre a audição e a esquizofrenia, e, a cada tempo, uma pequena dor. Uma leve pontada na boca do estômago, e tal desconforto é igualmente crescente.
A pulsação segue constante, aumentando gradualmente, tanto em velocidade, como em volume, chegando ao ponto de assimilar-se a um ruído ininterrupto, onde nem sequer os pensamentos conseguem ser mais audíveis. Então, quando este ruído fica estarrecedor e caótico, é neste instante que a dor, que outrora era um leve desconforto, eclode e se espalha como uma praga, como uma epidemia, infestando toda e qualquer parte do meu corpo. Tecidos, órgãos, até mesmo a mente.
A musculatura fica tensa. Petrificada. O sangue correndo me parece ter a espessura de um óleo impuro. Queima. As extremidades, por outro lado, estão excluídas desta ardência. A vida esqueceu-se das mãos e dos pés. Frios e rígidos, ambos suam. Minam água. Os membros renegados clamam pelo calor do corpo, tremendo incisivamente esperando qualquer resposta. Grito. Talvez um berro odioso, cercado de temor, com uma sobra imensa de dor. Independente do que seja, grito.
Há contrações por todos os lados. Intestinos, rins, diafragma, todos, infelizmente, se contorcendo como um bando de epiléticos, monstruosamente atenuando a dor. Os pulmões trabalham em vão. Mesmo com todo o ar do mundo ao meu alcance, é insuficiente. Nesta força vil de respirar, junto com o ar, se vai também a voz. Torno-me mudo.
Também se foram os sentidos. A audição se resume ao soar frenético da arritmia, enquanto o olfato se dissipa numa asma mortal. As papilas gustativas morreram, e tudo o que sobrou é um amargo e uma salivação que, para minha frustração, tenta desesperadamente adoçar a boca, enquanto os olhos cegos derramam lágrimas. Lágrimas igualmente amargas. Lágrimas que suspiram desejosamente por um alívio. Por uma paz.
Nada mais faz sentido. Nada mais vale a pena. O mundo é uma ferida cauterizada, suja. Um vazio negro e profundo, fétido, preenchido apenas por agonia e dor. Dor, dor, e apenas dor. Crescente e ininterrupta. Um sofrimento eterno. Duradouro. Infinito. Intensificado a cada segundo, até que, em seu ápice, um clarão e um ribombo arrebatam minha mente.
No corpo, uma dor aguda, como de uma faca penetrando no peito, deslizando por entre as costelas e cravando-se no arco da aorta, assim como uma bailarina desliza em suas sapatilhas sobre o palco, pousando delicadamente sobre o piso de taco encerado. A dor insuportável de uma implosão, acompanhado de um silencio memorável, claro e límpido. Um lindo paradoxo entre a perfeita introspecção e o fim tenebroso, afogado em sofrimento. Segundos, horas, eras. O tempo é indiferente. Um mero acessório desrespeitado.
Faz-se paz. Tão esperada paz. Acaba-se toda a dor. Todo o sofrimento lentamente se vai. Plenitude, com uma marca de esperança cravada na mente. Encontro-me em um estado ébrio. Quieto. O mundo não gira. Os sentidos vão retomando suas funções, um a um, vagarosamente, como se discutissem entre si se são realmente necessários. As cores vão tomando forma. Os cheiros. Os gostos. Os membros vão voltando aos seus costumeiros afazeres. Tudo voltando ao normal. Tudo se sensibilizando novamente, enquanto o tempo torna a caminhar e o mundo a girar.
Levanto-me então, e caminho depressivo para a vida, moído por mais uma noite de abstinência. Abstinência do teu corpo. Abstinência do teu cheiro, do teu sorriso. Abstinência do teu abraço. Dos teus cabelos no meu rosto. Abstinência do teu olhar cor de mel, e dos teus beijos tão doces quanto. Abstinência de te amar como merece.

sábado, 16 de março de 2013

Mãos ao alto: Fique onde está!

Sabe aquele jardim? Aquele em que plantamos aquela semente.
Naquele jardim há uma arvore que é tão velha quanto eu. Envelhecemos mais de 10 anos em menos de 5 meses. Com folhas verdes pelo chão, folhas bonitas, como as da primavera, e nos galhos folhas secas, como as do outono. Mas estamos no verão?

Há algum tempo venho sentindo algo diferente, como se eu tivesse ficado em coma por um tempo e tivesse acordando, gradualmente, ainda mais quando olho aquela arvore. Hoje sinto que despertei totalmente desse sono profundo, regado a sonhos, esperanças, fantasias e pesadelos.

Hoje notei que há palavras que não precisam ser ditas. Há atitudes que não precisam ser tomadas. Há pensamentos que não são necessariamente pensados. Há eu sem você.

Há eu sem você hoje, quando notei que perdi sua foto. Fucei em minha caixinha de porcarias, e não achei a mesma.

Hoje sinto falta por não sentir a menor falta.

Hoje o amor morreu como num assalto a mão armada.

Postado por Thami